A Leitura
Quando
abrias um livro,
era
como se abrisses um berço
e
nele me deitasses devagarinho.
Devagarinho
para que, lentamente,
o
meu corpo se despisse
do
calor das tuas mãos.
…
Depois, as tuas mãos e os teus braços,
como
se fossem enormes e brancas asas
de
míticas aves,
afastavam-se
docemente
sobrevoando
a minha cabeça…
E
eu então reparava
num
dourado céu sem fim
à
volta do teu rosto…
(Esse
céu eram os teus cabelos longos e livres…)
E,
no meio desse céu dourado sem fim,
o
teu rosto sorria como sorri a Lua Cheia em Agosto…
E
eu dizia-te assim:
– “Mãe… pareço grande para este berço…
os
lençóis são curtos… cheiram a resina
e
a eucalipto…
e
não me cobrem os pés…
E
mal sinto a textura macia do linho
a
tocar a minha boca, mãe!...
Preferia
ficar ao teu colo… – sentir na minha face
o
veludo do teu pescoço
e
do teu peito…”
Mas
tu respondias-me assim:
– “Meu filho…
aprecia
a história deste menino…– o pequeno Hugo
Igor…
o
menino que ficava gigante
porque
o seu coração singelo crescia de humanidade
sempre
que escutava as histórias de encantar
que
a sua mãe lhe contava”.
E
tu mãe, viravas mais uma página…
e
outra página… e mais outra.
E
eu fechava os olhos enternecido
sentindo
a tua voz
nos
meus ouvidos…
E
eu perguntava-te:
– “Mãe, será que o vento que sopra assim,
melodioso
nos meus ouvidos,
é
a música que se toca no Céu?...
Eu
tenho os meus olhos fechados, mãe…
mas
também gosto deste Céu que agora vejo
de
olhos fechados, enquanto te oiço…
Mãe!...
acende este Céu!...
E
quero olhar nele o teu rosto…
porque
um Céu assim tem que ter uma Lua!...”
Lembro-me
que, de os olhos fechados,
imaginava
o teu rosto… e sobre ele
as
tuas rugas de expressão
eram
uma escrita sobre um sorriso
que
eu lia enquanto escutava
as
histórias que tu me contavas…
A
tua expressão queria dizer que sim … –
que ias
acender
aquele Céu que eu via
de
olhos fechados.
M. Gama Duarte
Quinta do
Rouxinol, 12 de Março de 2009
(Poema dedicado a todas as mães)