Perséfone
M. Gama Duarte / 2015
(Instalação)
Título:
“O ouro Vegetal
dos campos de cultivo
por onde passeava Perséfone”
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Na mitologia grega, Perséfone era filha de Deméter e de Zeus – a única
filha nascida da relação que tiveram um com o outro.
Zeus era o deus dos deuses – o chefe supremo do Olimpo. O poder de Zeus
era superior ao poder de todas as divindades gregas juntas. Ele era o senhor da Chuva, do Céu e das Nuvens, do Raio
e do Trovão.
Deméter – também uma das doze divindades do Olimpo – era a deusa da
agricultura (deusa dos cereais e das colheitas, da vegetação, da fecundidade,
das estações do ano, da ordem e do casamento).
Perséfone tinha irmãos tanto do lado materno como do lado paterno.
Perséfone era uma jovem deusa possuidora de rara beleza. Ela deslumbrava
com o seu encanto, e muitos se tornaram seus pretendentes.
É referido que entre as divindades que foram pretendentes de Perséfone se
encontrava Hades.
Relatam os hinos homéricos que Hades (deus do reino do submundo: das sombrias
profundezas subterrâneas, mergulhadas nas trevas) veio a ser o pretendente que
conseguiu ter a jovem deusa como sua esposa.
Tal desejo de se esposar da jovem
Perséfone, concretizou-o Hades levando a cabo um plano cujo intento era raptá-la,
uma vez que da parte de Deméter (mãe de Perséfone) ele não obtivera o consentimento
para casar com a jovem deusa.
Nesse plano Hades veio a contar com o auxílio do seu irmão Zeus. Estes tendo
conhecimento que o seu irmão Hades se apaixonara perdidamente pela jovem deusa,
facilitou a concretização do planeado rapto criando a flor de nome narciso que viria a atrair a jovem
deusa.
O narciso era uma flor raríssima de cor carmesim e prata, cujo aspecto diferia
do aspecto da flor a que hoje se dá o mesmo nome.
Então o momento escolhido por Hades para pôr o plano em prática, foi
quanto um dia Perséfone, acompanhada das ninfas e das suas irmãs Atena e
Ártemis, passeava no Vale Enna colhendo
flores. Este vale era uma campina coberta de relva viçosa, rosas, açafrão,
violetas, Iris e jacintos.
Por conseguinte, a certa altura Perséfone avistou uma flor com um perfume
único, que nunca vira antes, e que a fascinou. E a partir desse instante muitas
mais, da mesma espécie, foram surgindo.
Perséfone não resistiu e, incauta, foi-se afastando das suas companheiras
correndo. Aproximou-se assim, deslumbrada, das misteriosas flores (os narcisos)
cheia de vontade de encher com elas o seu cesto.
Porém não chegou a satisfazer o desejo de as colher.
Hades era um deus solitário vivendo mergulhado em melancolia, e raramente
emergia dos seus domínios subterrâneos para andar pelo mundo dos vivos. Mas
quando o fazia, geralmente tirava partido da sua capacidade de se tornar
invisível. E também raramente visitava o Olimpo para se encontrar com os seus
irmãos Zeus e Poseidon, e as outras divindades.
Mas Hades naquele dia não deixou escapar aquela oportunidade: o momento em
que Perséfone se encontrava sozinha e rodeada por tais estranhas mas belas flores.
Então logo a terra se abriu e Hades, majestoso, carinhoso, mas ao mesmo
tempo temível, surge das profundezas conduzindo o seu carro dourado puxado por corcéis
negros. E de imediato arrebata pela mão a jovem deusa Perséfone e senta-a a seu
lado. E assim a levou até aos domínios subterrâneos – lugar que era chamado
de Èrebo, e que se dizia ser uma imensa planície no profundo subsolo onde os
mortos assombrados deambulavam.
Consumava-se assim a vontade de Hades: ter Perséfone como esposa, dividindo
com ela o seu reino.
Deméter, ao ouvir o grito de susto da sua filha no momento em que Hades a arrebatara de
surpresa, desolada e em desespero desce do Olimpo até à dimensão terrena em busca
de Perséfone.
Procura-a por todos os cantos do mundo, mas em vão. Não sabe onde ela se encontra e nenhuma informação consegue sobre o que lhe aconteceu.
Deméter vem por fim a ter conhecimento por intermédio de Hélios (o Sol) de que Perséfone
se encontra junto de Hades, porque este a raptara com a finalidade de virem a ser marido
e mulher para sempre.
E tendo Deméter conhecimento do facto ocorrido, aumentou o seu pranto, e decide não
regressar ao Olimpo sem a filha. E, além de não regressar sem a filha, suspende todas às
dádivas que normalmente concedia à Terra. E essa situação calamidade seria mantida até que a sua filha lhe fosse restituída.
Devido à tristeza e amargura de Deméter, os campos de cultivo já não tinham a sua atenção e protecção. E abateu-se sobre a terra a desgraça.
Seguiu-se
um ano tremendo (a Terra gelara). Tempos de profunda carência em que nada na
natureza frutificava: as sementes não germinavam, os animais não tinham qualquer
alimento, e a humanidade parecia que não iria sobreviver porque todo o trabalho investido nas terras era perdido.
Zeus compreendeu que tinha que intervir. Tendo ele chegado a esse
entendimento, enviou Hermes ao encontro de Hades para lhe pedir que libertasse
Perséfone, permitindo assim que ela regressa-se para junto da sua mãe que vivia
em enorme tristeza com a falta da sua filha.
Hades e Perséfone viviam amorosamente (porém nunca chegaram a ter filhos). Mas
Hades tinha consciência que não podia desobedecer a Zeus.
Contudo Hades ousou pôr em prática uma estratégia para não perder
definitivamente Perséfone.
Hades deu então a Perséfone sementes de romã para que ela as ingerisse.
Ela aceitou-as e ingeriu-as – o que implicou que o elo que os ligava se manteria para sempre.
Porém nem Hades nem Deméter viriam a ter a companhia de Perséfone durante todo o
ano: metade do ano Perséfone ficaria junto do seu marido (Hades) – a altura do
ano em que toda a natureza parecia perecer (o Outono e o Inverno). E a outra metade do ano Perséfone ficaria no
Olimpo na companhia da sua mãe (Deméter) – a altura do ano em que toda a
natureza renascia e se tornava dadivosa (a Primavera e o Verão).
Apresenta-nos esta história impregnada de romantismo, uma versão mítica da explicação dos
ciclos naturais em que assentam as diferenças entre as estações do ano.
Mas apesar da sua fantasia, e do irreal, reveste-se do seu quê encantatório.
M. Gama Duarte
26/11/2015
(Texto composto a partir da compilação de elementos
recolhidos em diversas fontes)