E
em certos dias
em certos dias
o nocturno Azul
celeste
era o seu Açúcar…
… E a mim próprio pergunto como é possível acontecer que, em
tão pouco tempo, as coisas nos fiquem tão distantes?...
E como é possível que, passado tanto tempo, ainda há
coisas que continuam tão presentes (tão próximas) ?...
M. Gama Duarte /
2016
(Foto sem título)
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… É certo que podemos não ver as coisas…
Mas também é certo que apesar disso as sentimos… E se os nossos olhos as não vêem, talvez a culpa seja da nossa crónica cegueira... – não nos permitindo essa crónica cegueira que vislumbremos o que na realidade existe…
Mas também é certo que apesar disso as sentimos… E se os nossos olhos as não vêem, talvez a culpa seja da nossa crónica cegueira... – não nos permitindo essa crónica cegueira que vislumbremos o que na realidade existe…
Certamente seria essa insuficiência (essa doença dos nossos olhos) que fazia com que Lauro Telmo, no momento sentado naquela esplanada
(três cadeiras, além da sua, à volta da sua mesa vazias), nada
visse…
M. Gama Duarte /
2016
Título: Iluminação ou clarividência |
... Ali de real apenas existia um círculo de silêncio…
(uma esférica aura de silêncio)…
(uma esférica aura de silêncio)…
Se aos seus ouvidos algo chegava, esse algo seria um único ruído!... – um chato ranger quando o seu corpo ligeiramente se movia: quando, por exemplo, se inclinava para a folha de papel que felizmente encontrara no bolso direito do seu velho casaco quando, ansiosa, a sua mão nele mergulhou em busca de um pedaço de papel… ou esse único ruído seria um ranger, não menos chato, quando o seu corpo se empertigava fazendo peso nas costas da cadeira obrigando-a assim a ceder uma meia dúzia de milímetros.
…
M. Gama Duarte /
2016
Título: Iluminação ou clarividência 2 (pormenor) |
Lauro Telmo tentava ao máximo fazer render a folha de papel esquecida que viera a desencantara no bolso direito do seu velho casaco (uma 4-A já com vincos, e metade escrita - um curto apontamento relativamente importante)… e isto ao mesmo
tempo que lhe ocorria perguntar a si próprio: Mas que teria eu mais, que fosse muito importante, a dizer (a escrever) no
espaço que sobra nesta folha?...
Falar de memórias?... E se fosse falar de memórias?... – Que mal teria falar de memórias?...
Ainda hoje ao fim da manhã, em Lisboa – na rua do Coliseu (Rua das Portas de S. Antão) na companhia da sua mulher, e enquanto na sua companhia tirava prazer de uma refeiçãozinha rápida à base de choco frito no pão, azeitonas e um jarrinho de vinho branco servido à temperatura, falava de um seu amigo de infância de nome Fernando Mana… Rapaz da idade de Lauro Telmo e que, em 2014, surpreendeu o seu amigo Lauro (a ele e a todos os que souberam da aventura) com a volta a Portugal em Triciclo a Pedal... Uma aventura heróica com o propósito de reavivar o alerta para o flagelo da poliomielite (a paralisia infantil), que ainda é um problema dos nossos dias em determinados quadrantes deste planeta…
...
M. Gama Duarte /
2016
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Bem lhes caiu o petisco. E quando o repasto calha a ser por aquelas paragens – no coração da velha Lisboa Pombalina –, é sacramental a tradicional visitinha ao N.º 7 da Rua das Portas de Santo Antão para a boa Ginjinha ou o Eduardino.
...
…Fernando
Mana; Quintino Figueira; Jorge Macedo; Fernando Mesquita… Etc… (que me desculpe
quem vier a ler esta crónica pela utilização do termo Etc. quando é de pessoas que falo,
e ainda para mais acresce a imensurável amizade e estima que por essas pessoas Lauro Telmo preserva…
que disso tenho eu absoluta certeza).
Ao Jorge Macedo e ao Fernando Mesquita, bem cedo Lauro Telmo lhes reconheceu o talento no curso que juntos (os três) frequentaram… e Lauro Telmo não poderia, por razão alguma, ignorar que estes seus dois amigos eram melhores artistas que ele próprio (Lauro).
...
Gravura
de
Sá
Nogueira
em
cobre e água tinta
sobre
papel
Título:
Café |
Mais
cadeiras houvesse à volta da mesa a que Lauro Telmo se sentava, e mais amigos de entre aqueles de quem no momento se recordava se sentariam... E Lauro Telmo bem gostaria de a todos revisitar e ali ter...
Van Gogh
Título:
Terraço
de Café
|
...
Num texto que neste meu blog publiquei a 9 de Fevereiro de 2015 – a que dei o título “E que haja azul… Que haja céu… (o céu cura todas as cegueiras) – deixei escrito:
Os passos mais seguros são os que dados sobre o céu… – mais seguros que os que damos sobre as pedras, sobre os areais, sobres os musgos, sobre os húmus, ou sobre as ervas rasteiras dos campos…
(Ainda hoje acredito que assim seja)
... E seria talvez esta mesma cegueira de que falo, que não permitia que Lauro Telmo visse os seus amigos sentados em redor da sua mesa quando desceu os olhos, e olhou.
Desenho
de
Catarina
Castel-Branco
(Grafite
e colagem)
Título:
Natureza Morta
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A determinada altura Lauro Telmo tinha menos que meia folha 4-A em branco; já quase via o fundo do copo de tinto que pediu em dose dupla; talvez já estivesse na digestão da patanisca que chegou à sua mesa conservando ainda algum calor do momento da fritura…
…
M. Gama Duarte / 2016
Título:
O cortinado lilás
do prédio com janela
e porta
pintadas
de azul
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Acalmava-o aquela digestiva solidão… e palitava a alma com o pontiagudo silêncio que de si emergia lenta e suavemente (apenas de si… – do mais fundo de si).
Tocou um telemóvel – que não era o seu porque há muito não usava telemóvel.
Reparou então
que o sinal do telemóvel não era o único ruído de fundo que se ouvia… Havia vozes dispersas
e perdidas numa espécie de intemporal… E havia um doce latido. Descobriu enfim a
origem daquele latido doce – uma descoberta que não lhe deu mais fadiga que
simplesmente uma vez mais desviar a atenção da folha de papel que por fim lhe reservava espaço apenas para mais umas duas linhas.
Era um
simpático cachorro branco que alguém (não deu conta de quem quer que tenha sido) deixou preso no canteiro, e a seguir entrou
na Cervejaria passando inevitável e invisivelmente pela mesa de Lauro Telmo.
O
cachorro, com um olhar amistoso, fitou Lauro Telmo… e agitou a cauda como que, com
ela, estivesse a tocar ao de leve o ombro de Lauro Telmo, cumprimentando-o e dando-lhe um pouco de conforto.
M. Gama Duarte
(Ficção)
30/01/2016