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MENSAGEM AOS VISITANTES DO BLOG

Saúdo todos os que acedem a este meu Blog, venham ou não, de futuro, a tornarem-se visitantes habituais do mesmo.

Apraz-me contar com todos neste espaço de partilha.

domingo, 31 de janeiro de 2016




E
em certos dias
o nocturno Azul celeste
era o seu Açúcar…  




… E a mim próprio pergunto como é possível acontecer que, em tão pouco tempo, as coisas nos fiquem tão distantes?...
E como é possível que, passado tanto tempo, ainda há coisas que continuam tão presentes (tão próximas) ?...


M. Gama Duarte / 2016


(Foto sem título)
   





É certo que podemos não ver as coisas…
Mas também é certo que apesar disso as sentimos… E se os nossos olhos as não vêem, talvez a culpa seja da nossa crónica cegueira... – não nos permitindo essa crónica cegueira que vislumbremos o que na realidade existe…






Certamente seria essa insuficiência (essa doença dos nossos olhos) que fazia com que Lauro Telmo, no momento sentado naquela esplanada (três cadeiras, além da sua, à volta da sua mesa vazias), nada visse…


M. Gama Duarte / 2016

Título:
Iluminação ou clarividência
... Ali de real apenas existia um círculo de silêncio…
(uma esférica aura de silêncio)…














Se aos seus ouvidos algo chegava, esse algo seria um único ruído!... – um chato ranger quando o seu corpo ligeiramente se movia: quando, por exemplo, se inclinava para a folha de papel que felizmente encontrara no bolso direito do seu velho casaco quando, ansiosa, a sua mão nele mergulhou em busca de um pedaço de papel… ou esse único ruído seria um ranger, não menos chato, quando o seu corpo se empertigava fazendo peso nas costas da cadeira obrigando-a assim a ceder uma meia dúzia de milímetros.


M. Gama Duarte / 2016

Título:
Iluminação ou clarividência 2
(pormenor)
Lauro Telmo tentava ao máximo fazer render a folha de papel esquecida que viera a desencantara no bolso direito do seu velho casaco (uma 4-A já com vincos, e metade escrita - um curto apontamento relativamente importante)… e isto ao mesmo tempo que lhe ocorria perguntar a si próprio: Mas que teria eu mais, que fosse muito importante, a dizer (a escrever) no espaço que sobra nesta folha?...
Falar de memórias?... E se fosse falar de memórias?...  – Que mal teria falar de memórias?...






Ainda hoje ao fim da manhã, em Lisboa – na rua do Coliseu (Rua das Portas de S. Antão) na companhia da sua mulher, e enquanto na sua companhia tirava prazer de uma refeiçãozinha rápida à base de choco frito no pão, azeitonas e um jarrinho de vinho branco servido à temperatura, falava de um seu amigo de infância de nome Fernando Mana… Rapaz da idade de Lauro Telmo e que, em 2014, surpreendeu o seu amigo Lauro (a ele e a todos os que souberam da aventura) com a volta a Portugal em Triciclo a Pedal... Uma aventura heróica com o propósito de reavivar o alerta para o flagelo da poliomielite (a paralisia infantil), que ainda é um problema dos nossos dias em determinados quadrantes deste planeta…

...




M. Gama Duarte / 2016
Bem lhes caiu o petisco. E quando o repasto calha a ser por aquelas paragens – no coração da velha Lisboa Pombalina , é sacramental a tradicional visitinha ao N.º 7 da Rua das Portas de Santo Antão para a boa Ginjinha ou o Eduardino.
     

...

…Fernando Mana; Quintino Figueira; Jorge Macedo; Fernando Mesquita… Etc… (que me desculpe quem vier a ler esta crónica pela utilização do termo Etc. quando é de pessoas que falo, e ainda para mais acresce a imensurável amizade e estima que por essas pessoas Lauro Telmo preserva… que disso tenho eu absoluta certeza).

Ao Jorge Macedo e ao Fernando Mesquita, bem cedo Lauro Telmo lhes reconheceu o talento no curso que juntos (os três) frequentaram… e Lauro Telmo não poderia, por razão alguma, ignorar que estes seus dois amigos eram melhores artistas que ele próprio (Lauro).

...





Gravura de
Sá Nogueira
em cobre e água tinta
sobre papel

Título:
          Café          
Mais cadeiras houvesse à volta da mesa a que Lauro Telmo se sentava, e mais amigos de entre aqueles de quem no momento se recordava se sentariam... E Lauro Telmo bem gostaria de a todos revisitar e ali ter...























Van Gogh

Título:
Terraço de Café  
Lauro Telmo olhou ao alto. Os seus olhos penetraram o negro sem fim... (foi o que ele imaginou: um negro sem fim). Porém vislumbrou nesse negro pontuais cintilações… – seriam provavelmente estrelas… e se tal fosse (estrelas), elas davam-lhe a certeza de que era o céu que ali estava por cima de si... mesmo não o vendo pela razão de os seus olhos não encontravam o azul.

...











Num texto que neste meu blog publiquei a 9 de Fevereiro de 2015 – a que dei o título “E que haja azul… Que haja céu… (o céu cura todas as cegueiras) – deixei escrito:

Os passos mais seguros são os que dados sobre o céu… – mais seguros que os que damos sobre as pedras, sobre os areais, sobres os musgos, sobre os húmus, ou sobre as ervas rasteiras dos campos

(Ainda hoje acredito que assim seja)

... E seria talvez esta mesma cegueira de que falo, que não permitia que Lauro Telmo visse os seus amigos sentados em redor da sua mesa quando desceu os olhos, e olhou.




Desenho de
Catarina Castel-Branco
(Grafite e colagem)
Título:
Natureza Morta
              




























A determinada altura Lauro Telmo tinha menos que meia folha 4-A em branco; já quase via o fundo do copo de tinto que pediu em dose dupla; talvez já estivesse na digestão da patanisca que chegou à sua mesa conservando ainda algum calor do momento da fritura…







M. Gama Duarte / 2016

Título:
O cortinado lilás
do prédio com janela
e porta
pintadas
de azul    
Noite…

Acalmava-o aquela digestiva solidão… e palitava a alma com o pontiagudo silêncio que de si emergia lenta e suavemente (apenas de si… – do mais fundo de si).

Tocou um telemóvel – que não era o seu porque há muito não usava telemóvel.
Reparou então que o sinal do telemóvel não era o único ruído de fundo que se ouvia… Havia vozes dispersas e perdidas numa espécie de intemporal… E havia um doce latido. Descobriu enfim a origem daquele latido doce – uma descoberta que não lhe deu mais fadiga que simplesmente uma vez mais desviar a atenção da folha de papel que por fim lhe reservava espaço apenas para mais umas duas linhas. 

Era um simpático cachorro branco que alguém (não deu conta de quem quer que tenha sido) deixou preso no canteiro, e a seguir entrou na Cervejaria passando inevitável e invisivelmente pela mesa de Lauro Telmo.
O cachorro, com um olhar amistoso, fitou Lauro Telmo… e agitou a cauda como que, com ela, estivesse a tocar ao de leve o ombro de Lauro Telmo, cumprimentando-o e dando-lhe um pouco de conforto.











M. Gama Duarte
(Ficção)

30/01/2016



              


terça-feira, 26 de janeiro de 2016



Naturezas
da Imaginação

e Arte

Divina
   
   



Plano 1






Plano 2






Plano 3





Plano 4

















Plano 5

















Planos 1, 2, 3, 4 e 5:

Instalação (M. Gama Duarte / 2016 )
Título: Naturezas da Imaginação e Arte Divina


quinta-feira, 7 de janeiro de 2016



Tríptico Assimétrico

“…E nas margens do céu
 eu sentei-me
E…”






   – “Vamos…






Vamos olhar o céu! …











… Do Mar, em mim, ainda não se acusam saudades.















… Mas ainda bem me recordo… – recordo o seu Azul e os seus Verdes… (tão Sonoros que eram)… Ainda bem me lembro… (lembram-se os meus ouvidos… – estes sim: capazes de se recordarem daqueles Verdes… e daquele Azul




Er'à verdade: Eurico – o Frei  (Frei Eurico, como os mais íntimos o tratavam) ainda bem se lembrava…                   



Mas por outro lado, os olhos de Eurico talvez padecessem em particulares momentos da incapacidade de reterem em memória o som das estrelas… e o som do negro e do azul do firmamento…


















(As estrelas fixam-se a uma tremenda distância… a uma distância incalculável… e o firmamento Eurico procurava-o e encontrava-o sempre num lugar incerto…)




...

… É mágica e misteriosa a arte que existe nessa lonjura imensa (indizível) do firmamento. Mas por intermédio dela (dessa arte), coexistem a distância e um permanente êxtase de silêncio… E todos os sinais que em intermitência Eurico sentia, talvez viessem desse além com o fim de o despertarem... E tais sinais pronunciavam-se numa silenciosa e subtil linguagem.



Mas algures – bem o sabia Eurico – também existe um eremitério em chão macio e plano… e nele (nesse eremitério) não há sombras… Ou algo a que se poderia chamar sombras simplesmente seriam espaços onde a luz menos tocasse.


Nos corredores, nos recantos, e em esconsos desse eremitério, o tempo produz correntes levemente perceptíveis, assemelhando-se essas correntes a brisas em delicados movimentos, como que num fino e interminável tricot… – brisas que entram por janelas escancaradas ou entreabertas (e mesmo que fechadas se encontrem) e tudo percorrem e penetram…


No eremitério, o tempo é alimentado ao peito e vai pulando de regaço materno em regaço materno.

No eremitério não existe escuridão. Ilumina-o eternamente candelabros, lanternas, candeias, tochas, archotes… lustres cintilantes.

À epiderme do corpo que a Eurico permite as astrais experiências, não escapa a coada luz dos seus vitrais interiores – estes tão coloridos quanto a alegria que vivifica cada uma das suas víscera.

À revelia do labor do pensamento (do pensamento missionário e obreiro de Eurico), a um ritmo abstracto vão-se erguendo por vezes muralhas de linho, onde, no grão fino do seu alçado que pende e ondula, os pigmentos das enigmáticas imagens se vão esbatendo.



No eremitério procuram-se clarabóias onde não é possível encontrar-se céu; procuram-se imagens em caixilhos onde não se encontram nem janelas nem varandins…










No eremitério, os rumores, os murmúrios e os zumbidos, são melodias e cantares num sereno coro… E estas melodias e cantares num sereno coro serão talvez as cores do mar que a qualquer distância, e de qualquer ângulo de visão, Eurico é capaz de ouvir de memória (bem se lembra Eurico das cores do Mar).  


Do Mar Eurico ainda se recorda… (Eurico está convencido de que as seus ouvidos são búzios).






“… E o Céu?... E as estrelas?... Onde está ele, o Céu… e onde estão elas, as estrelas?... Será que ainda nos lugares de sempre?...”
E Eurico eleva os olhos tendo a sensação que o seu corpo cresce acompanhando o seu olhar.

Como que numa redoma transparente (cristalina), e protegida por firmes paredes ,  vive uma lenda que fala do suspiro de um dedo que aponta rompendo um misterioso oculto… Tal como o ponteiro de uma bússola ao tocar ao longe todos os horizontes… Ou como a vara de um druida que penetra as cortinas do tempo…


Há um mirar ao longe… – olhares velozes empurrados pelo eflúvio da curiosidade e da dúvida… seguindo um dedo que aponta tal como o ponteiro da bússola… Ou como a vara do druida penetra as cortinas do tempo…

(Eurico ainda olha para o alto, enquanto recorda o azul e os verdes do Mar).










Texto:
M.  Gama Duarte
12 de Outubro de 2011

Fotografia:
M. Gama Duarte