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sexta-feira, 8 de abril de 2016



Vibrações,

Encantamentos 
Vislumbres







Imagem 1



Imagem 2



















Imagem 3




















M. Gama Duarte / 2016
(Instalação: escultura)

Título:
Invocação da Arte e do Artista:
Trabalho dedicado à Arte
e a todos os artistas




****


Vibrações,
encantamentos e vislumbres





M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)

Título:
Em Palco (plano 1)

(Parte 1)






















Talvez eu tivesse a idade de onze, ou talvez de doze ou de treze – e isto no início da minha adolescência... Mas ao certo não sei. Porém, certo foi que por essa idade passei, de forma mais atenta, a inclinar-me para as prateleiras das estantes das quais ia tendo oportunidade de me aproximar e de, por um instante, satisfazer a minha jovem curiosidade relativamente a títulos de obras e aos nomes dos respectivos autores.
Eram oportunidades que se me apresentavam sempre que entrava numa biblioteca, fosse dentre ou fora do estabelecimento de ensino onde estudava, ou quando espreitava para lá das vidraças da montra de uma livraria, ou quando visitava familiares e amigos nas suas próprias casas.


O Baú
Em casa dos meus pais, onde nasci e fui criado, não encontrava muitos livros. Os que nela existiam ia desencantá-los em gavetas nas mesinhas de cabeceira e cómodas, e no interior de um baú antiquíssimo. 




Neste último lugar (no interior do antiquíssimo baú) os livros misturavam-se com recordações de diversos géneros, como se ali habitassem em segredo. E essa aura de mistério – seria que os livros ali habitavam em segredo?... – desafiava-me a imaginação. E era desse modo – no interior do enigmático baú arrumado a um canto esconso da casa – que o meu pai preservava, como coisa preciosa que eram, os livros que maior curiosidade me despertavam.      




M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)

Título:
Em Palco (plano 2)




Meu pai foi um homem dos sete ofício. Mas de entre todos esses – os sete ofícios dos quais ele bem dava conta – nenhum era o da escrita. E, por outro lado, quase nenhum tempo ocupava com leituras (nunca teria comprado um livro…), e a verdade é que não me recordo de uma única vez em que o tenha visto de olhos pregados num jornal interessando-se em se pôr a par das notícias frescas do dia.


Poderia não ser um homem de leituras (ou que pouco lesse), mas tinha mão firme quando chegava a hora de se sentar e de, concentradamente – entregando-se por inteiro à missão –, redigir uma ou duas dúzias de linhas em boa e fluente caligrafia.

meu pai nunca teria comprado um livro… Porém, não obstante esta quase certeza, também não é certo que alguma vez eu lhe tenha perguntado: Pai, de onde veio este e aquele livro?... Compraste-os?

Mas dúvidas não tenho de que ele considerava os livros um bem inestimável. E a maneira como a eles se apegava (quase que religiosamente), induz-me a crer (e sei lá eu porquê… – penso hoje nisso) que não os havia comprado, mas sim que alguém lhos tinha oferecido, e daí o valor estimativo que os livros lhe mereciam.


Foram-me ficando na memória nomes de obras e nomes de autores…
A esses tempos também se associam memórias das minhas primeiras visitas a exposições, quer permanentes quer temporárias. Essas exposições, como é normal, iam ocorrendo em galerias e museus cuja existência eu passava a conhecer em diversos locais da cidade – espaços esses que para mim já se revelavam importantes.







Entremeio




M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)

Título:
Em Palco (plano 3)














Lauro Telmo gostava de aproximar o rosto a cada pintura e a cada escultura que tinha oportunidade de olhar e contemplar em livros de edições valiosíssimas que havia descoberto – beleza que na altura mal imaginava que noutros lugares fosse possível existir.   

Deslumbrado praticava esse gesto de aproximar o rosto em cada página que primeiro mirava a fim de lhes sentir o cheiro e a textura.


Mas para uma dúzia de anos mais tarde lhe estava reservada uma mais intensamente viva experiência que jamais esqueceu… Uma experiência iluminada por uma Primavera que enchia de luz a bela cidade de Paris…


Um colorido de vitral tocava, pela manhã, ruas, esplanadas, parques e jardins.



No edifício que já foi estação ferroviária, e hoje é museu, estava Lauro Telmo. Absorto e estático quase pisava o traço vermelho que fisicamente o separava, com propósitos de segurança, da parede branca na qual pendiam, em largos caixilhos, magníficos exemplares de uma arte maior que vieram a imortalizar os seus autores…

Nos olhos de Lauro Telmo era o espanto… e o deslumbramento… o êxtase… A emoção.

Oh!!!…”  – exclamou. E os seus olhos sorriram… e neles se reflectiram os focos que, como sois, desciam dos projectores estrategicamente instalados no tecto da sala do museu.  

Os olhos de Lauro Telmo humedeceram-se. E em ambos se foram formaram finos e cristalinos riachos que mal se retinham sobre a linha rosada das suas pálpebras inferiores, e se precipitavam.


M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)

Título:
Em Palco (plano 4)
























Anoitecia e as luzes nocturnas de Paris começavam a acender-se. Lauro Telmo subiu a um ponto alto da cidade. E finalmente se lhe oferecia a oportunidade de conhecer um dos ex-libris daquela cidade luz. Entrou no templo, e, com todos os poros do seu corpo e da sua alma, foi absorvendo lentamente um maná de emanações místicas que fluíam de cada fragmento de tudo o que observava, tocava, ouvia.



M. Gama Duarte /2016

Título:
Os canteiros dos telhados


















Também as ruas, esplanadas e jardins do seu país natal, e cidade natal, são tocadas por um certo colorido vitral…

Para além de Lauro Telmo muitas vezes visitar museus e galerias, onde via e revia, sempre com o mesmo fascínio, as grandes obras de artistas portugueses (e também estrangeiros), não raras vezes passava longas horas em bibliotecas e jardins. Muitos jardins públicos pelo seu Portugal possuem admiráveis estátuas representativas da grande arte dos nossos artistas. E Lauro Telmo, a partir de certa altura, passou a deslocar-se a esses jardins propositadamente para as desenhar. 




Vibrações,
encantamentos e vislumbres



M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)

Título:
Em Palco (plano 5)


(Parte 2)












M. Gama Duarte

Título:
Homenagem
Ao fado  






























Numa das recentes ocasiões em que, a convite, estive presente como amigo e espectador numa tertúlia fadística (pois não canto, nunca cantei nem sei cantar), por momentos, no decorrer do jantar e do espectáculo, tive oportunidade de conversar com um certo alguém com importância que não há muito tempo havia conhecido em similar encontro


Esse alguém era marido da fadista organizadora da tertúlia que naquele dia e naquele restaurante se realizava – tertúlia essa semelhante a anteriores com lugar naquele mesmo espaço, e semelhante a outras que haviam tido lugar em espaços diversos.

Não era a primeira vez que eu cumprimentava tal individuo. Mas a oportunidade de com ele estabelecer uma conversa próxima só daquela segunda vez se me havia oferecido. Porém, justificadamente (o normal nestes eventos), a conversa foi por vezes interrompida e reiniciada.
Ela (a mulher de tal indivíduo) uma fadista. Mas ele provavelmente (tal como eu) não canta, nunca cantou, nem sabe cantar.

Vim a saber, para minha surpresa e agrado, que esse sujeito era pintor (é um bom pintor). Informei-o de que eu também me interessava por pintura… e que, aliás, me interessava por todas as formas de expressão artística.

À conversa não foi necessário ele dizer-me que também era fotógrafo – essa sua outra vertente artística autodenunciava-se uma vez que nem a mim nem aos restantes presentes que ajudavam a encher o salão havia passado despercebido que a tarefa da cobertura fotográfica do acontecimento a ele se encontrava entregue.

A conversa ia animada e a bom ritmo. E oportunamente ele puxou da algibeira um telemóvel, e durante todo o tempo que durou a sessão de salpico de dedos sobre o ecrã foram aparecendo uma quantas imagens que precisamente eram algumas das melhores telas do artista… E gostei!






Nota de rodapé:

Em particular no texto que hoje publico, não faço menção a nomes de autores, a títulos de obras, a estilos, a movimentos... nem a épocas.
Dedico esta página a todas as formas de expressão artística e a todos os artistas.
É uma dedicatória onde há lugar também, na condição de pé de igualdade, para um pensamento e uma palavra que se dirigem ao artista desconhecido.
Um texto a bem dizer dedicado à arte em geral e a todos os artistas – tanto àqueles que deixaram à humanidade as suas obras, como àqueles que é no tempo presente que vão dando corpo (e espírito) às criações (suas) que ficarão também para a posteridade.
Pois cada artista, com o seu génio e no seu género, materializa aquele Algo Especial com que influencia, pela positiva, a par de outras importantes realizações levadas a efeito a bem da humanidade, a qualidade de vida das sociedades em colectivo e do individuo em particular.
E assim acontece, e acontecerá, sempre que uma sociedade e um individuo tenha a oportunidade de beneficiar desse contributo salutar, inspirador e formativo, que é a Arte.         
           




M. Gama Duarte
09 de Abril de 2016

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