Vibrações,
Encantamentos
e Vislumbres
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Imagem 3
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M.
Gama Duarte / 2016
(Instalação:
escultura)
Título:
Invocação
da Arte e do Artista:
Trabalho
dedicado à Arte
e a
todos os artistas
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Vibrações,
encantamentos e
vislumbres
M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)
Título:
Em Palco (plano 1)
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(Parte 1)
Talvez eu tivesse a idade de onze, ou
talvez de doze ou de treze – e isto no início da minha adolescência... Mas ao
certo não sei. Porém, certo foi que por essa idade passei, de forma mais
atenta, a inclinar-me para as prateleiras das estantes das quais ia tendo
oportunidade de me aproximar e de, por um instante, satisfazer a minha jovem curiosidade
relativamente a títulos de obras e aos nomes dos respectivos autores.
Eram
oportunidades que se me apresentavam sempre que entrava numa biblioteca, fosse
dentre ou fora do estabelecimento de ensino onde estudava, ou quando espreitava
para lá das vidraças da montra de uma livraria, ou quando visitava familiares e amigos nas suas próprias casas.
O Baú
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Em casa dos meus pais, onde nasci e
fui criado, não encontrava muitos livros. Os que nela existiam ia
desencantá-los em gavetas nas mesinhas de cabeceira e cómodas, e no interior de
um baú antiquíssimo.
Neste último lugar (no interior do antiquíssimo baú) os livros misturavam-se com recordações
de diversos géneros, como se ali habitassem em segredo. E essa aura de mistério – seria que os livros ali habitavam em segredo?... – desafiava-me a imaginação. E era
desse modo – no interior do enigmático baú arrumado a um canto esconso da casa
– que o meu pai preservava, como coisa preciosa que eram, os livros que maior curiosidade me despertavam.
M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)
Título:
Em Palco (plano 2)
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Meu pai foi um homem dos sete ofício. Mas de entre todos esses – os sete ofícios dos
quais ele bem dava conta – nenhum era o da escrita. E, por outro lado, quase
nenhum tempo ocupava com leituras (nunca teria comprado um livro…), e a verdade
é que não me recordo de uma única vez em que o tenha visto de olhos pregados
num jornal interessando-se em se pôr a par das notícias frescas do dia.
Poderia
não ser um homem de leituras (ou que pouco lesse), mas tinha mão firme quando chegava
a hora de se sentar e de, concentradamente – entregando-se por inteiro à missão
–, redigir uma ou duas dúzias de linhas em boa e fluente caligrafia.
O meu pai nunca
teria comprado um livro… Porém, não obstante esta quase certeza, também não é
certo que alguma vez eu lhe tenha perguntado: Pai, de onde veio este e aquele livro?... Compraste-os?
Mas
dúvidas não tenho de que ele considerava os livros um bem inestimável. E a
maneira como a eles se apegava (quase que religiosamente), induz-me a crer (e sei lá eu porquê… – penso hoje nisso)
que não os havia comprado, mas sim que alguém lhos tinha oferecido, e daí o
valor estimativo que os livros lhe mereciam.
…
Foram-me
ficando na memória nomes de obras e nomes de autores…
A
esses tempos também se associam memórias das minhas primeiras visitas a
exposições, quer permanentes quer temporárias. Essas exposições, como é normal,
iam ocorrendo em galerias e museus cuja existência eu passava a conhecer em diversos
locais da cidade – espaços esses que para mim já se revelavam importantes.
…
Entremeio
M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)
Título:
Em Palco (plano 3)
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Lauro Telmo gostava de aproximar o
rosto a cada pintura e a cada escultura que tinha oportunidade de olhar e
contemplar em livros de edições valiosíssimas que havia descoberto – beleza que
na altura mal imaginava que noutros lugares fosse possível existir.
…
Deslumbrado praticava esse gesto de aproximar o rosto em cada página que primeiro
mirava a fim de lhes sentir o cheiro e a textura.
…
Mas para uma dúzia de anos mais
tarde lhe estava reservada uma mais intensamente viva experiência que jamais
esqueceu… Uma experiência iluminada por uma Primavera que enchia de luz a bela
cidade de Paris…
Um
colorido de vitral tocava, pela manhã, ruas, esplanadas, parques e jardins.
No edifício que já foi estação
ferroviária, e hoje é museu, estava Lauro Telmo. Absorto e estático quase
pisava o traço vermelho que fisicamente o separava, com propósitos de
segurança, da parede branca na qual pendiam, em largos caixilhos, magníficos exemplares
de uma arte maior que vieram a imortalizar os seus autores…
Nos olhos de Lauro Telmo era o
espanto… e o deslumbramento… o êxtase… A emoção.
“Oh!!!…” – exclamou. E os seus olhos sorriram… e neles
se reflectiram os focos que, como sois, desciam dos projectores estrategicamente
instalados no tecto da sala do museu.
Os olhos de Lauro Telmo
humedeceram-se. E em ambos se foram formaram finos e cristalinos riachos que
mal se retinham sobre a linha rosada das suas pálpebras inferiores, e se
precipitavam.
…
M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)
Título:
Em Palco (plano 4)
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Anoitecia e as luzes nocturnas de Paris começavam a acender-se. Lauro Telmo subiu a um ponto alto da cidade. E finalmente se lhe oferecia a oportunidade de conhecer um dos ex-libris daquela cidade luz. Entrou no templo, e, com todos os poros do seu corpo e da sua alma, foi absorvendo lentamente um maná de emanações místicas que fluíam de cada fragmento de tudo o que observava, tocava, ouvia.
M. Gama Duarte /2016
Título:
Os canteiros dos telhados
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Também as ruas, esplanadas e
jardins do seu país natal, e cidade natal, são tocadas por um certo colorido
vitral…
Para
além de Lauro Telmo muitas vezes visitar museus e galerias, onde via e revia,
sempre com o mesmo fascínio, as grandes obras de artistas portugueses (e também estrangeiros), não raras vezes passava longas horas em
bibliotecas e jardins. Muitos jardins públicos pelo seu Portugal possuem
admiráveis estátuas representativas da grande arte dos nossos artistas. E Lauro
Telmo, a partir de certa altura, passou a deslocar-se a esses jardins propositadamente
para as desenhar.
Vibrações,
encantamentos e
vislumbres
M. Gama Duarte /2016
(Cenografia e desenho)
Título:
Em Palco (plano 5)
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(Parte 2)
M. Gama Duarte
Título:
Homenagem
Ao fado
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Numa das recentes ocasiões em que, a convite, estive presente como amigo e espectador numa tertúlia fadística (pois não canto, nunca cantei nem sei cantar), por momentos, no decorrer do jantar e do espectáculo, tive oportunidade de conversar com um certo alguém com importância que não há muito tempo havia conhecido em similar encontro
Esse alguém era marido da fadista
organizadora da tertúlia que naquele dia e naquele restaurante se realizava –
tertúlia essa semelhante a anteriores com lugar naquele mesmo espaço, e semelhante a
outras que haviam tido lugar em espaços diversos.
Não era a primeira vez que eu cumprimentava
tal individuo. Mas a oportunidade de com ele estabelecer uma conversa próxima só
daquela segunda vez se me havia oferecido. Porém, justificadamente (o normal
nestes eventos), a conversa foi por vezes interrompida e reiniciada.
Ela (a mulher de tal indivíduo) uma fadista. Mas
ele provavelmente (tal como eu) não
canta, nunca cantou, nem sabe cantar.
Vim a saber, para
minha surpresa e agrado, que esse sujeito era pintor (é um bom pintor). Informei-o de
que eu também me interessava por pintura… e que, aliás, me interessava por
todas as formas de expressão artística.
À conversa não foi
necessário ele dizer-me que também era fotógrafo – essa sua outra vertente artística
autodenunciava-se uma vez que nem a mim nem aos restantes presentes que
ajudavam a encher o salão havia passado despercebido que a tarefa da cobertura
fotográfica do acontecimento a ele se encontrava entregue.
…
A conversa ia animada e a bom
ritmo. E oportunamente ele puxou da algibeira um telemóvel, e durante todo o tempo que durou a sessão de
salpico de dedos sobre o ecrã foram aparecendo uma quantas imagens que
precisamente eram algumas das melhores telas do artista… E gostei!
Em particular no texto que hoje publico, não faço menção a nomes de autores, a títulos de obras, a estilos, a movimentos... nem a épocas.
Nota
de rodapé:
Em particular no texto que hoje publico, não faço menção a nomes de autores, a títulos de obras, a estilos, a movimentos... nem a épocas.
Dedico esta
página a todas as formas de expressão artística e a todos os artistas.
É uma
dedicatória onde há lugar também, na condição de pé de igualdade, para um pensamento
e uma palavra que se dirigem ao artista desconhecido.
Um texto a
bem dizer dedicado à arte em geral e a todos os artistas – tanto àqueles que deixaram à
humanidade as suas obras, como àqueles que é no tempo presente que vão dando corpo
(e espírito) às criações (suas) que ficarão também para a posteridade.
Pois cada
artista, com o seu génio e no seu género, materializa aquele Algo Especial com
que influencia, pela positiva, a par de outras importantes realizações levadas a efeito a bem da
humanidade, a qualidade de vida das sociedades em colectivo e do individuo em
particular.
E assim
acontece, e acontecerá, sempre que uma sociedade e um individuo tenha a
oportunidade de beneficiar desse contributo salutar, inspirador e formativo,
que é a Arte.
M.
Gama Duarte
09
de Abril de 2016
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