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sexta-feira, 25 de dezembro de 2015



Asa azul do Silêncio

(A Asa, o Sonho, o Azul, o Rosa… e o Silêncio)






O Homem voaria de verdade se Deus o tivesse provido de asas para assim poder voar. Mas se tal tivesse sido a decisão divina, tê-la-ia sido logo no princípio – aquando da criação de Adão e de Eva (àdam). E, necessariamente, na altura os planos divinos para a humanidade teriam sido outros.

Mas se Deus tivesse criado o Homem munido de asas, o Homem não seria Homem mas sim um pássaro… ou, se não um pássaro, um outro qualquer espécime com aparência semelhante àquela que observamos em certos mamíferos alados. Alguns desses do mundo real, e outros do reino da fantasia.

Imaginemos então este planeta (a Terra) povoado por essa outra humanidade: a fantástica espécie humana munida de asas… – isso em vez da humanidade que conhecemos… Hoje tudo seria diferente do que conhecemos... – a evolução teria tomado um outro rumo, e as consequências seriam incalculáveis.

Mas voar  é um sonho antigo… (um antigo sonho do Homem).

Decerto a cada um de nós já aconteceu acordar e levantar-se do leito com a satisfação de ainda se recordar de um fantástico sonho em que teve a extraordinária experiência de voar “de verdade”... mesmo que no sonho nada tivesse mudado em seu corpo (não tendo nele ocorrido qualquer metamorfose).


Nos sonhos em que voei, que me lembre, no corpo que eu encarnava não existiam asas.

E essa sensação vivida no plano astral (essa “experiência”) de voar, mesmo sem asas, para o ser humano é como que o equivalente ao acto de voar em concreto – do voar de verdade (É da experiência de todos nós que há sonhos em que tudo se nos apresenta incrivelmente real ).

Enfim testemunhamos o quanto o Deus condescendeu com o Homem concedendo-lhe uma asa (a única asa que cada um de nós possui ) …
E com essa única asa que Deus ofereceu ao Homem ele pode voar... (e voa…): essa asa é a asa do seu voo imperfeito – o voo da sua aprendizagem… A asa dos múltiplos e constantes voos de cada um de nós humanos.

… E ninguém por cada um de nós pode voar, porque o voo é individual… E é solitário. (Porém, e não obstante, o Homem naturalmente ser um ser gregário, com tendência para de modo grupal se organizar . E é sob a “lógica” desta condição que nos comparamos aos pássaros.
Cada pássaro, ainda em tenra idade, tem que aprender a bater as asas por si próprio, e por si próprio voar.

A asa do Homem é uma asa mental e espiritual…, e nos momentos dos seus despertares, o bater da sua asa dá movimento e expressão à sua criatividade, à sua inventiva, à sua fantasia… e também às suas esperanças e aos seus desejos.

Poderá um homem acreditar-se munido de asas de constituição densa, porque poderá imaginariamente materializa-las e fixá-las nas extremidades dos seus ombros. E esse exercício poderá ser como que uma invocação do mítico, ambicioso e sonhador, Ícaro…
Mas no mundo real de hoje, quando o ser humano voa deve fazê-lo preferencialmente (é de todo aconselhável) já com a lição aprendida e com toda a prudência.

E assim este Homem voador dos nossos dias (homem ou mulher) passará por uma fabulosa experiência em que vê à prova, de forma peculiar, os seus dons e a sua capacidade operante.  

E se um qualquer de nós (homem ou mulher) estiver sozinho numa praia deserta, com o horizonte a Nascente, poderá em paz e em silêncio perscrutar o horizonte e olhar o firmamento; poderá em paz e em silêncio contemplar a beleza de tudo o que vê, ouve, sente (a criação), e tentar compreendê-lo… E poderá até imaginar que a única asa que por Deus lhe foi oferecida, em vez de ser uma asa mental e espiritual  é uma asa física. Mas a imaginária asa física desse homem ou mulher, frágil penderá sempre, e tocará as areias desenhando nelas o rasto de um destino (o seu destino).

Mas poderá ainda, esse homem ou mulher, elevar o olhar para seguir o voo das gaivotas… – esse sim: um voo  real... – aquele voo dos sonhos do Homem... (da humanidade).
Mas esse ser humano (homem ou mulher) em si terá sempre a sua asa subtil: a única asa com que Deus o muniu… (portanto não necessitará da asa de constituição densa que é capaz de imaginar).

A asa com que Deus muniu o Homem, é a asa do seu voo imperfeitoAsa que poderá pintar de azul, de rosa… Poderá mesmo pintá-la de azul e de rosa, ou de qualquer outra cor… ou cores… E terá também ali, ele ou ela (homem ou mulher), o silêncio.



M. Gama Duarte

16/10/2007


                                                             
                                                                                     
                         
                                                                                     
                                                                                    
                                                                           
                                                                                                                   


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