Asa azul do Silêncio
(A Asa, o Sonho, o Azul, o Rosa… e o Silêncio)
O Homem voaria de verdade se Deus o tivesse
provido de asas para assim poder voar. Mas se tal tivesse sido a decisão divina,
tê-la-ia sido logo no princípio –
aquando da criação de Adão e de Eva (àdam). E, necessariamente, na altura os
planos divinos para a humanidade teriam sido outros.
Mas se Deus
tivesse criado o Homem munido de asas, o Homem não seria Homem mas sim um pássaro…
ou, se não um pássaro, um outro
qualquer espécime com aparência semelhante àquela que observamos em certos mamíferos
alados. Alguns desses do mundo real, e outros do reino da fantasia.
Imaginemos então este planeta (a Terra) povoado por essa outra humanidade: a fantástica espécie humana munida de asas… – isso em vez da humanidade que conhecemos… Hoje tudo seria diferente do que conhecemos... – a evolução teria tomado um outro rumo, e as consequências seriam incalculáveis.
Mas voar é um sonho antigo… (um antigo sonho do
Homem).
Decerto a cada um de nós já aconteceu
acordar e levantar-se do leito com a satisfação de ainda se recordar de um fantástico
sonho em que teve a extraordinária experiência de voar “de verdade”... mesmo que no sonho nada tivesse mudado em seu corpo
(não tendo nele ocorrido qualquer metamorfose).
…
Nos sonhos em que voei, que me lembre, no corpo
que eu encarnava não existiam asas.
E essa sensação vivida no plano astral (essa “experiência”) de voar, mesmo sem asas, para o ser humano é como
que o equivalente ao acto de voar em concreto – do voar de verdade… (É da experiência de todos nós que há
sonhos em que tudo se nos apresenta incrivelmente real ).
…
Enfim testemunhamos o quanto o Deus condescendeu com o Homem concedendo-lhe
uma asa (a única asa que cada um de nós possui ) …
E com essa única asa que Deus ofereceu ao Homem ele pode voar... (e voa…): essa asa é a asa do seu voo imperfeito – o voo da sua aprendizagem… A asa dos múltiplos e constantes voos de cada um de nós humanos.
… E ninguém
por cada um de nós pode voar, porque
o voo é individual… E é solitário. (Porém, e não obstante, o Homem naturalmente ser um ser gregário, com tendência para de modo grupal se organizar . E é sob a “lógica” desta condição que nos comparamos aos pássaros.
Cada pássaro, ainda em tenra idade, tem que
aprender a bater as asas por si próprio, e por si próprio voar.
A asa
do Homem é uma asa mental e espiritual…,
e nos momentos dos seus despertares, o
bater da sua asa dá movimento e
expressão à sua criatividade, à sua inventiva, à sua fantasia… e também às suas
esperanças e aos seus desejos.
Poderá um homem acreditar-se munido de asas
de constituição densa, porque poderá imaginariamente materializa-las e fixá-las
nas extremidades dos seus ombros. E esse exercício poderá ser como que uma
invocação do mítico, ambicioso e sonhador, Ícaro…
Mas no mundo real de hoje, quando o ser
humano voa deve fazê-lo preferencialmente
(é de todo aconselhável) já com a lição
aprendida e com toda a prudência.
E assim este Homem voador dos nossos dias (homem ou mulher) passará por uma fabulosa experiência
em que vê à prova, de forma peculiar, os seus dons e a sua capacidade operante.
E se um qualquer de nós (homem ou mulher) estiver sozinho
numa praia deserta, com o horizonte a Nascente, poderá em paz e em silêncio
perscrutar o horizonte e olhar o firmamento; poderá em paz e em silêncio
contemplar a beleza de tudo o que vê, ouve, sente (a criação), e tentar
compreendê-lo… E poderá até imaginar que a única asa que por Deus lhe foi oferecida, em vez de ser uma asa mental e espiritual é uma asa física. Mas a imaginária asa física desse homem ou mulher, frágil penderá sempre, e tocará as areias desenhando nelas o rasto de um destino (o seu destino).
Mas poderá ainda, esse homem ou mulher, elevar o olhar para seguir o voo das gaivotas… – esse sim: um voo real... – aquele voo dos sonhos do Homem... (da humanidade).
Mas esse ser humano (homem ou mulher) em si terá sempre a sua asa subtil: a única asa com que Deus o muniu… (portanto não necessitará da asa de constituição densa que é capaz de imaginar).
A asa com que Deus muniu o Homem, é a asa do seu voo imperfeito… Asa que poderá pintar de azul, de rosa… Poderá
mesmo pintá-la de azul e de rosa, ou de qualquer outra cor… ou cores…
E terá também ali, ele ou ela (homem ou mulher), o silêncio.
M. Gama Duarte
16/10/2007
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