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MENSAGEM AOS VISITANTES DO BLOG

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016






G r a v a t a   a m e r i c a n a




Sonhei hoje contigo, pai.
Já havia bastante tempo que não nos encontrava-mos nos meus sonhos. Também nunca antes te tinha visto tão catita nestes nossos nocturnos encontros… (não é que alguma vez te tenha visto mal vestido…)
Não fui de luxos, como sempre soubeste… (ainda hoje sou assim)
E para te teres apresentado da maneira como me apareceste no sonho, é possível que tenhas ido remexer no meu guarda-fatos e escolhido uma das minhas melhores camisas (a minha melhor camisa: limpa, engomada, perfumada… e sem lhe faltar um único botão)…


M. Gama Duarte / 2016
Instalação / Cenário

Título:
“Sonho a Cores”
(Plano  1)



Enfim… – bem reparei que te esmeraste… Pois na figura que apresentavas havia sinais de nada teres deixado ao acaso, e, em resultado dessa tua preocupação, lá estava a boa impressão que deixaste... E é um facto que me surpreendeste…
Na volta foste mesmo ao meu guarda-fatos, não obstante eu não ter encontrado, no meio do todo aquele crónico reboliço, quaisquer vestígios de outras mãos que não as minhas mãos (mesmo apesar de todo aquele reboliço).
Reparei em ti… (olhei com toda a atenção), e constatei que estavas deveras elegante… mesmo sem gravata.










Não sei porque penso nisto agora (…): quase tenho absoluta certeza de que tu em vida nunca vestistes, ou calçaste, uma única peça do meu guarda-roupa… (talvez porque sempre foste maior que eu…)

Mas se esta noite, especialmente para o sonho, quebraste esse teu velho princípio, acho sinceramente que te deves tranquilizar: não te apoquentes porque nada fizeste de errado…



M. Gama Duarte / 2016
Instalação / Cenário

Título:
“Sonho a Cores”
(Plano  2)
De quando em vez, de há alguns anos a esta parte, faço frequentemente toalete com aqueles cintos com fivela em latão que eram teus… (muita coisa tu deixaste…).
Uso esses teus cintos para que as calças não me desçam demasiadamente abaixo do umbigo, dando-me um ar desleixado… E assim, com um dos teus cintos, o cós mantem-se sobre os quadris a uma altura razoável… e pronto: as calças ficam a assentarem-me melhor… E mais:








Ás vezes coloco até uma das tuas gravatas quando se dá o caso de “obrigatoriamente” ter que comparecer em algum lugar onde se impõe a prática de alguma etiqueta – o que é uma seca (as etiquetas são para mim uma seca)... mas lá me conformo com as pontuais obrigações sociais, e escolho uma das mais bonitas gravatas de entre todas as que herdei de ti (que bonitas, a bem dizer, todas o são)…


M. Gama Duarte / 2016
Instalação / Cenário

Título:
“Sonho a Cores”
(Plano  3)
E bem me recordo ainda que me contavas que essas gravatas vinham da América – de um amigo que tu tinhas na América…  

Mas a verdade é que nunca foi teu estilo usares regularmente gravata… E isso notava-se nas raras vezes em que as vestias… E tão raras eram as ocasiões em que retocavas a tua toalete com o colorido e a fantasia de uma gravata, que nunca chegaste verdadeiramente a apurar o jeito... (levavas algum tempo a acertar no ponto exacto em que o nó da respectiva deveria apresentar-se). Mas, como eras habilidoso, era uma questão de tempo e paciência (eras também paciente) e o nó da gravata acabava por aparecer e assentar no sítio exacto no colarinho da camisa.



M. Gama Duarte / 2016
Instalação / Cenário

Título:
“Sonho a Cores”
(Plano  4)
E a verdade era que ficavas bem composto… Tal como te apresentaste no meu sonho… – estavas indiscutivelmente elegante e discreto mesmo sem a gravata.
Também nunca antes, em sonhos, tinhas surgido tão bem disposto…


Perguntei-te como estavas. Sorriste e, ao mesmo tempo que nos  cumprimentava-mos, respondeste-me assim:
– “Agora estou bem!…”





Do sorriso pronto, fácil mas sincero, passaste adiante até à gargalhada eufórica e emotiva, motivada, provavelmente, pelo entusiasmo daquela oportunidade de comunicarmos...
De resto, apreciei também o teres mantido o teu sentido de humor…






M. Gama Duarte






Na foto:
João Duarte 







(extracto da crónica que compus em 01 de Julho de 2012, e intitulei “Gravata Americana”. Crónica cujo início, aqui transcrito, é inspirado num sonho que havia tido com o meu pai na noite do dia anterior).

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016



Canção

Para um Vagabundo
 feliz
   
                    

M. Gama Duarte /2015
Sobre teu corpo,
em penitentes preces
velhas árvores
se inclinam 









Mas por ti
as horas passam
nuas
e sem órgãos…
Passam…





E em rebeldia
míticos cortejos irrompem
num hilariante
e incerto intemporal… – nocturno e doce império…






M. Gama Duarte /2015



lumes olhos,
algures, sorriem…
(qual pura
e sanguínea
liturgia…)



M. Gama Duarte
 2015
Que se ergam altares
sobre pilares de ternura!…
… – pilares
que talvez sejam
os teus
trémulos gestos…

Sim…
– Serás sacerdote
porque trazes nos teus olhos
o silêncio!…


e ao vento
encostas os teus ouvidos
(escutas)…

Escutas,
bem lá longe,
a beleza do indizível.






M. Gama Duarte
26/02/2006