123456789

123456789

MENSAGEM AOS VISITANTES DO BLOG

Saúdo todos os que acedem a este meu Blog, venham ou não, de futuro, a tornarem-se visitantes habituais do mesmo.

Apraz-me contar com todos neste espaço de partilha.

quarta-feira, 27 de maio de 2015




Seixal - Lisboa:
































do Seixal
Lisboa vista
 suspensa sobre Guitarras

E o Artista toca,
 e a Artista canta,
uma Melodia Nupcial
entre Lisboa
e o Seixal





Ilustração:
M. Gama Duarte /2015

Técnica mista (desenho a rotring e colagem de recortes)










SEGREDOS

(Os segredos dos rios e os segredos dos corpos)



… e assim acreditei: não era possível, senão assim, chegar mais longe... (ao Sul…)
… E era, no momento, a melhor maneira de “fugir”… (a minha maneira... a minha fuga) – "fugir" para o mais longe possível… – a “fuga” que não me cansava…
Pensei: Apraz-me fugir assim… – pois… – não me impõe qualquer esforço: é aquela fuga linear… serena… – como uma longa e perfeita respiração...

… E era uma longa e perfeita respiração que dispunha como margens as imensas e repousantes paisagens deste “meu (e nosso) ” infinito Sul… E era sempre assim…
… E ao mesmo tempo que essas imensas e repousantes paisagens iam sendo as damas de honor dos meus olhos nesse rumar a Sul.



M. Gama Duarte / 1985
Tinha ido respirar e procurar sombra, algures, no verde resplandecente do parque da marina que ficava próximo.

Cheguei à sombra que procurava… e podia enfim respirar.
E ali me deixei ficar encostado ao tronco de um jovem plátano que, segundo me palpitou, ali existia há aproximadamente quatro anos.
E ali ele continuava entre meia dúzia de outros plátanos da mesma geração.




Rose, sentada do meu lado esquerdo, lia Augusto Cury.
À minha direita a Nessy sossegava: ventre sobre a relva fresca e verdejante, e focinhito esticado… E ali estava ela: esperta e atenta.
A curiosidade canina de Nessy levava-a, de quando em vez, a fixar o olhar nos pequenos bandos de gaivotas que ora poisavam sobre a massa negra, lodosa e luzidia da ria, ora formavam voo e se afastavam. E ao lado dessa pungente manifestação de vida em liberdade, um pequeno número de antigas embarcações ali jaziam, porque ali haviam encontrado lugar para o sono perpétuo dos seus velhos cascos e dos seus velhos mastros.
….



Rose continuava do meu lado esquerdo.
Virei-me lentamente na sua direcção torcendo ligeiramente a cintura, e contando com o apoio do meu cotovelo esquerdo que sob o meu tronco se fixava na sombra. Detive-me assim um breve instante. Sorri.  
Rose captou o meu sorriso antes de virar mais uma página do livro que lia, e antes de um suspiro… E antes de, num gesto sereno, ajeitar atrás da orelha a madeixa de cabelo que lhe descia sobre a sua face mais próxima de mim.

– Tens que ler este livro – recomendou-me Rose …  – isto quando ela entendeu ser o momento de corresponder ao meu sorriso e de fazer uso das suas palavras… E o seu sorriso foi aquele seu sorriso que acrescenta sempre algo mais ao valor simples das coisas e às circunstâncias comuns...

– Tenho muitos livros para ler… – observei eu num primeiro comentário ao que ela me dizia. Mas logo de imediato reconheci o interesse do concelho que Rose me dava:
– É verdade que tenho sempre livros para ler… mas tu sempre me aconselhas os melhores… É por isso que acredito que valha a pena ler também esse que me recomendas...




O livro que Rose lia, e me aconselhava, era uma obra assinada por Augusto Cury… E uma vez mais recordo o título: “ Pais Brilhantes, Professores Fascinantes”.


– Ouve!... – pediu-me Rose.
Interessado, dispus-me logo a dar toda a atenção ao que Rose se propunha ler, para que eu ouvisse.

Procurei então a pose que maior  confortável me oferecia, para que atento escutasse Rose.
Assim, num movimento (e só num movimento) lento e discreto, desdobrei os joelhos… e logo a seguir o resto do meu corpo cedeu.
Senti desfazer-se assim, muito naturalmente, aquele ângulo preciso que permite que o ser humano se sente de forma confortável e estável.
Esbateu-se por fim, por completo, a possibilidade de eu abarcar com o meu olhar o quase perfeito círculo azul que contornava a minha consciência de mim e o meu prazer de ali me encontrar naquele exacto momento.

Senti os dedos entrelaçados das minhas mãos a sofrerem uma leve pressão entre a minha cabeça e a verdura a que me abandonara confortavelmente. Sentia os meus dedos tocados pela minha nuca, e por outro lado sentia a minha nuca tocada pelos meus dedo… (é impressionante a sensibilidade de que são dotadas estas extraordinárias extremidades do nosso corpo).


Estas extraordinárias extremidades (os dedos) comparei-as um dia aos pequenos afluentes dos rios... – (recordo essa minha reflexão)... e verbalmente revelei-a num tom de voz que permitisse que Rose a meu lado me ouvisse: 
– Sabes (?...), o Tejo é generoso… é nosso dever agradecer-lhe. Ele permite-nos o desfrutar desta bela baía (a Baía do Seixal… – caso exemplar dos pequenos segredos dos rios… Assim como existem os pequenos segredos do corpo… dos nossos corpos”).

Em pensamento, alonguei-me na minha reflexão enquanto no plano da minha existência densa (concreta) eu mergulhava num breve silêncio. Pensava:

“Sim, as pequenas baías, as pequenas lagoas, os pequenos afluentes, os pequenos riachos … – tudo isso são pequenos segredos dos rios… Segredos dos seus líquidos corpos… – (muitas vezes submersos e aí conservados… Escondidos). Líquidos corpos que correm e alagam discretamente… Banhando os sítios mais recônditos e sombrios: em serras, em bosques… Lugares ainda virgens… sítios ainda não desbravados pelos olhos e pelas mãos humanas.
São assim os rios à semelhança do nosso corpo (dos nossos corpos num certo sentido colectivo… – (que o nosso corpo também tem os seus “segredos”).




– “E em que são comparados os pequenos segredos dos rios aos pequenos segredos dos nossos corpos?...” – questionei (e a mim próprio me questionei), de novo em voz que permitisse a Rose ouvir-me.
- "Acho que sei a comparação” – surpreendeu-me Rose.

Também nesse dia – junto à Baía do Seixal – Rose  estava ao meu lado… E eu tinha-lhe dito, instantes antes, que podíamos agradecer ao Tejo a sua generosidade (… Era a generosidade do Tejo que permitia que desfrutasse-mos de toda a beleza daquela baía. E vinha de todo a propósito falar a Rose da reflexão em que eu mergulhara na sequência da “edílica” consideração que, instantes atrás, eu havia feito a respeito do Tejo – O Tejo… O rio a “quem” o Seixal e Lisboa confessam todos os seus segredos.

“Eu sei… – Sei esses segredos em que pensas! … – Esses segredos do nosso corpo… dos nossos corpos. Esses segredos que comparas aos segredos dos rios… Acreditas que sei, companheiro?” – confrontava-me Rose
Rose  sorriu desviando de seguida o olhar... Provavelmente adivinhando no meu rosto um sorriso semelhante ao seu a desenhar-se nos meus lábios… (pretendendo talvez que esse meu sorriso também se transformasse num segredo).

Instantes depois, Rose  inclinou levemente a cabeça para trás… e depois para o seu lado esquerdo.
Por si próprios os seus longos cabelos desviaram-se ligeiramente deixando a descoberto uma sedosa superfície de pele branca do pescoço, onde fez deslizar a ponta dos dedos da sua mão direita.





Era noite.
A ténue claridade que chegava à orla daquela praia fluvial da Margem Sul vinha dos candeeiros que cedo se acendem para iluminar a estrada marginal que aparentemente cria uma divisão entre a vila e a praia. Também trémulos feixes de luz estendiam-se nas águas espessas e escuras, parecendo amarras douradas a prenderem, uma à outra, e a céu aberto, as vilas do Seixal e de Amora.

Os meus olhos perdiam-se num estranho mas apelativo encontro com ocultas e belas faces de uma particular realidade. E tudo atraía a si, com especial virtude, aquela ínfima luz que assumia uma rara espécie de privilégio devotado a quem havia fruído do feliz destino de ali chegar naquele dia ao raiar da noite.


O gesto gracioso de Rose, tocando com os dedos o seu pescoço, não me deixou dúvidas: ela sabia do que eu falava, e eu compreendera-lhe o gesto...
E se alguma dúvida em mim ainda existisse, essa dúvida não sobreviveria às palavras de Rose
“ – Acho que sei a comparação… Sei esses segredos em que pensas… Esses segredos do nosso corpo… – dos nossos corpos” – palavras que ecoavam no plano mais sensível da memória dos meus ouvidos. Palavras cristalizadas numa doce certeza; palavras cativas ainda no sorriso que perdurava na boca de quem as dissera.



M. Gama Duarte / 1985
De novo a Sul.

Senti um calor junto à minha face, e uma pressão que me empurrava as mãos. Sabia que era Nessy á volta da minha cabeça, de cauda alçada e farejando, a procurar-me os dedos.
Nessy fazia-me acordar da viagem em que calcorreara os caminhos da minha memória… – viagem que me levara ao areal da bela Baía do Seixal. Mas algo de mim ainda se prendia a essa viagem… a essa peregrinação em espírito: “o regresso”... O regresso à Baía… - Àquela noite:


“ – Comemos bem… Estava bom o peixe dos nossos pratos… E o vinho alentejano que nos sugeriram, e serviram (colheita do ano de 2004), era excelente…”  – comentei eu…
Rose:
– “Vamos agora descer à areia… Vamos ver os barcos.
E eu:
– “Sim, vamos!... – vamos andando até onde a praia nos deixar ir”.

Tocar a areia (a praia) era a ideia perfeita para o prolongar do meu momento com Rose  – porquanto era um desfrutar do agrado de Rose.
E, bem à sua maneira, logo Rose  naturalmente  manifestou a sua vontade adiantando-se a passos afoitos… enquanto saltitando num só pé ia descalçando o outro. E depois correndo comentou:

– “Mais depressa falasses em praia, mais depressa me vias correr assim”.
   

M. Gama Duarte / 2012

Desenho a carvão sobre papel
– “Esta praia também tem as sua conchas… repara” – aliciava-me Rose… – ela já de pés nus sobre a areia fresca e húmida.
Aproximei-me. Flecti o corpo e testemunhei a evidência: “aquela praia também tinha as suas conchas”, como me dissera Rose. Peguei em duas e vislumbrei, tanto quanto a luz envolvente me permitia, os relevos, as texturas, os recortes, as tonalidades daquelas duas pequenas conchas.
Olhei Rose, e disse-lhe:
– “Sabes, Rose (?)... isto são pequenas jóias destas águas e destas areias … – jóias nas formas mais livres e naturais… Aqui não há mão nem pensamento humano a decidir sobre estas formas.
O Tejo é generoso… devemos agradecer-lhe. Ele permite-nos o desfrutar desta bela Baía…”


M. Gama Duarte / 2012
Desenho a carvão
 sobre papel
Ambos sabíamos aquela verdade dos rios – os seus segredos: lagos; ribeiros; riachos… Os rios têm de facto os seus segredos como os nossos corpos têm os seus segredos. Temos os nossos sinais particulares que expomos, ou guardamos ocultos… Alguns existem em nós onde só nós sabemos… (secretamente eles lá permanecem). Pertencem-nos como pequenas relíquias que nos fazem únicos.

Rose levantou-se e avançou alguns metros ao longo da praia. Mantinha ainda graciosamente a mão sobre o pescoço já coberto pelos cabelos. (Talvez ainda conservasse no rosto vestígios do sorriso).

Rose transparecia tranquilidade. Caminhava lentamente… imperturbável. Parecia ter sido tomada por um desejo súbito de se recolher em intimidade com os segredos do seu corpo.




Nessy regressava às minhas mãos. Confundi por momentos as suas lambidelas a despertarem-me, com a sensação que me deliciara ao tocar com as minhas mãos (com os meus dedos) as minúsculas ondas que vieram desfazer-se à praia da Baía do Seixal, naquela noite… – a noite em que eu e Rose  falámos de segredos. Em que Rose, também com os seus dedos, e fazendo-os deslizar na pele branca do seu pescoço, tocou aqueles sinais que bem conheço… que fazem parte daqueles tais segredos do corpo... dos nossos corpos.


Nessy afastou-se. Retomei a pose que me permitia de novo observar as poucas e simples coisas… e o horizonte… (tudo). E se de tudo eu falasse, as palavras poderiam esgotar-se numa demanda pela melhor expressão, pelo melhor estilo, pela mais fabulosa e incomparável harmonia…
Rose continuava manuseando “Pais Brilhantes, Professores Fascinantes”… de Augusto Cury…
Eu prestava por fim toda a atenção à leitura (ao que Rose lia)... Eu não tinha a mínima noção se ela se havia apercebido do meu momentâneo alheamento em relação às suas palavras (à sua leitura… ao que ela já me havia lido). Por ventura, e pelo menos, o som da sua voz nunca teria estado ausente em mim. Poderia até imagina-las (as suas palavras) pairando, rolando ou navegando sobre o meu peito… ao longo de todo o meu corpo numa tentativa de descobrirem nele os tais segredos que existem escondidos nos corpos, para lhes falarem e os compararem aos segredos dos rios… – tudo segredos aos quais elas (as palavras) se podem render numa fiel e eterna cumplicidade.

Rose terminara a leitura. Fim de um capítulo que eu deveria ter ouvido por inteiro. E de novo um sorriso estampado no seu rosto… – quase interrogativo.
E, de resto, eu sabia que ela achava que não era necessário convencer-me do que quer que fosse…
Mas ao seu sorriso, quase interrogativo, eu não podia responder “que sim… – que tinha ouvido tudo o que me lera”. Quando muito dir-lhe-ia que a frase com que terminara o capítulo, era excelente. Poderia dizer-lhe até, recordando-me dos meus momentos de leitura nos dias soalheiros e frescos da Primavera de 2006, que também se poderá considerar feliz o final de um outro emocionante livro de Augusto Cury (uma outra obra sua), porque o final dessa outra história é uma mensagem de esperança… A celebração da vida em esperança, num romance que conta, tão simplesmente como brilhantemente, a “Saga de Um Pensador”. Podia dizer todas estas coisas a Rose, mas eu também sabia que não era necessário tentar convencer Rose do que quer que fosse…

                                                                                                          


M. Gama Duarte


Setembro de 2007


Fotos:
Dunas, e praia,
da costa atlântica portuguesa

Desenhos (título):
Fadistas pescadores
das águas das tágides







Foto de M. Gama Duarte


Rosa Maria Duarte em Setembro de 1985
no Guincho 
 





























domingo, 24 de maio de 2015












Os cães de Leopoldo e Leopoldina
(Fabulação)



Os cães de Leopoldo e Leopoldina não são de carne e osso … Os cães de Leopoldo e Leopoldina não comem carne (nem roem ossos)… Não ingerem quaisquer tipos de alimentos, sejam eles alimentos sólidos ou líquidos.

Nenhum dos dois cães de Leopoldo e Leopoldina são desmesuradamente grandes… nem são exageradamente pequenos.
São cães bastante jovens, e ambos da mesma raça… (embora a diferença entre eles, em determinados pormenores, os faça bem distintos).
E esta questão das diferenças tem um importante realce ao dar-mos atenção a certas características físicas que exteriormente neles se revelam… Mas também nas características da anatomia interna eles são bem diferentes um do outro.
Porém eles são semelhantes na personalidade e nas atitudes: não ladram, e não são agressivos… (não mordem).
Mas lá têm as suas coisitas como quaisquer cães...
Leopoldo e Leopoldina são os donos destes simpáticos cachorrinhos (seus amigos)… e aceitam-nos assim diferentes dos demais cães…
















… Um deles foi escolhido por Leopoldo… (é claro: com a aprovação de Leopoldina...) o outro cachorro não… Mas é como se esse outro igualmente tivesse sido escolhido por Leopoldo…

São dois bonitos cães … E são afáveis; e são calmos.
Nunca deitam a língua de fora. Nunca têm fome e nunca farejam… e nunca abanam a cauda… E não se cansam (não correm nem saltam).
Ficam onde Leopoldo quiser que eles fiquem. Mas, do lugar onde ficarem, não param de olhar para Leopoldo… E assim permanecem durante o tempo que apetecer a Leopoldo... São cães sempre obedientes.   















Leopoldo sorri-lhes; faz-lhes festas; conversa com eles…
Eles enternecem Leopoldo e Leopoldina.
Ás vezes Leopoldo e Leopoldina comovem-se com a prodigiosa fidelidade canina com que podem contar por parte dos seus belos cães… – fidelidade que em muito se aparenta à fidelidade canina dos cachorro normais (obviamente que falo – eu o narrador desta história –, quando me refiro aos cães normais, dos cães que comem carne, que roem ossos, que ladram, que correm, que saltam, que largam pêlo nos sofás nas alcatifas nos tapetes e nas carpetes... e que bamboleiam a língua… e que de cauda alçada nos canteiros rodopiam à volta dos troncos das árvores até que encontrem a melhor posição para esguicharem um xixi).













Leopoldo e Leopoldina um dia tiveram um cachorro desses tais cachorros normais (e muito gostaram dele). Mas já foi há muito tempo.
Se hoje os cães de Leopoldo e Leopoldina fossem desses cães normais, Leopoldo e Leopoldina não podiam trazê-los nos bolsos… Nem pô-los em cima das mesas dos cafés, das tabernas, das cervejarias, dos restaurantes, etc…. porque logo alguém, indignado e inflexível, advertiria Leopoldo e Leopoldina… E pelo meio das advertências, surgiriam invocações normativas… (As Leis, as regras, os princípios… Todas essas coisas…).

Mas, à parte todas as limitações e inconvenientes do viver em sociedade num mundo real e “civilizado” – como este que temos e em que vivemos –, Leopoldo e Leopoldina gostam muito do à vontade com que convivem com os seus cães, e do à vontade com que os seus cães convivem consigo… E nesta relação (de uns com os outros – a que se habituaram) reflecte-se toda a simplicidade, naturalidade, e afecto incondicional que os liga.
















À noite Leopoldo olha para os seus cães e puxa para o aconchego dos cobertores da sua cama o maior dos dois. E este, embora o maior, não chega a ter de tamanho palmo e meio de uma mão humana já adulta… e é este que fica, dia e noite, sobre o livro de cabeceira de Leopoldo. E ali fica o bichano com o livro debaixo de si servindo-lhe de pedestal e dia inteiro… (E que melhor pedestal poderia ele ter que não fosse: “História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar” de Luís Sepúlveda?).
E o bichano, já regalado sobre os joelhos do seu dono e amigo, vai observando--o na leitura… E talvez com vontade de lhe perguntar:
– “Então a história já chegou à parte em que o gato ensina a gaivota a voar?”

E o bichano continua a observar o dono e amigo Leopoldo até que o vê adormecer.
E então, a certa altura, sob o olhar fixo e vigilante do seu amigo de quatro patas, Leopoldo pende a cabeça e os óculos vão-lhe resvalando pela cana do nariz.

A companheira de Leopoldo (a sua mulher: Leopoldina), ali a seu lado, não ilustra um género diferente de leitor… … E ela aprova a amizade existente entre Leopoldo e o seu cão de cabeceira – bichano que ao mesmo tempo é o guardião do livro do qual, tranquila e gostosamente, Leopoldo retira o prazer da leitura até que o sono chegue para tomar conta si.

Ao outro bichano, o mais pequeno dos dois cães, Leopoldo trà-lo permanentemente no bolso do casaco – este outro oferta de Leopoldina a Leopoldo em Dezembro passado (um presente de aniversário).
E porque não, um cão?.. Pois nem de perto nem de longe a Leopoldo alguma vez chegara notícia de que os cães se haviam desentendido com os Centauros.




                                                                     M. Gama Duarte

                                                                      12 de Janeiro de 2010

Ilustração de M. Gama Duarte / 2015

(Instalação /cenário)
Titulo: Leopoldo e Leopoldina
e os seus cães