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domingo, 3 de maio de 2015





Dia
da Mãe














Desenho de Almada Negreiros transposto da publicação (livro):

MATERNIDADE
26 desenhos de Almada Negreiros
texto de Ernesto de Sousa / 1971

Colecção arte e artistas
IMPRENSA NACIONAL - CASA DA MOEDA










Debaixo do céu onde se abrigam as roseiras



  
Lembro-me, mãe:
Perguntava-te
se era o sorriso do palhaço triste
que fazia abrir, um a um,
os malmequeres
que eu via crescer nos campos
e nos canteiros…

Mas,
mais tarde
– num tempo
em que já mal me pegavas ao colo –,
às vezes quando me olhavas
eu fugia-te, rindo…
– fugia-te
tal como eu me via crescer a teus olhos…

(… Fugia-te como se desafiasse
a veloz corrida dos Sátiros e dos Centauros
que habitavam todo o espanto
nos meus sonhos…)

Maravilhaste-te, mãe (calculo),
naquele dia
em que ergui os braços:
queria  apanhar as pombas!…
(e quase lhes tocava…)
E surpreendi-me ao notar
o quanto eu havia crescido...

Eu estava no jardim,
e o vulto do meu rosto e dos meus cabelos
sobrepunha-se aos ramos das frondosas roseiras.
Fiquei depois a olhar o céu,
e suspirei de fascínio e prazer…
Fiquei, porém, alegre ao mesmo tempo que triste...
e pareceu-me que não precisava
de sentir o chão
debaixo dos meus pés
para que soubesse o quanto eu havia crescido…

… porque eu queria ser…ser  e crescer mais, e mais
E comparei então a minha altura
com o tamanho
de todas as outras coisas que via
para além das roseiras…
Até o meu sorriso havia crescido (reparei também…
- sim havia crescido!…
apesar da minha boca
continuar pequena…)

…E eram outras as minhas palavras…
e eu sabia, por outro lado, que o discurso das coisas
para mim havia também mudado:
era outra a maneira
como as coisas falavam aos meus ouvidos;
outra a forma como as coisas eram presentes
aos meus olhos, ao meu cheiro, e ao contacto
com o meu corpo…

“Talvez no som com que se exprime o silêncio,
esteja toda a explicação para o infinito” – também eu hoje
acredito…
E pergunto:
– O que procurava eu
quando fixava o céu e ficava alegre ao mesmo tempo que triste (?…)

Mas…
era o discurso das coisas
que me explicava – ainda sem eu bem o perceber –, o porquê  de eu existir…
– porque eu sentia que existia de verdade

E, quando já não me pegavas ao colo, mãe,
dizias-me
que tudo o que cabe no coração
não é diferente, em tamanho e pureza,
de tudo o que cabe
num sorriso!…


                                                                                
M. J. Gama Duarte

Poema escrito em 19 de Fevereiro de 2009
(Poema que ao tempo o dediquei à infância mas que hoje o dedico também a todas as mães). 




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