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domingo, 24 de maio de 2015












Os cães de Leopoldo e Leopoldina
(Fabulação)



Os cães de Leopoldo e Leopoldina não são de carne e osso … Os cães de Leopoldo e Leopoldina não comem carne (nem roem ossos)… Não ingerem quaisquer tipos de alimentos, sejam eles alimentos sólidos ou líquidos.

Nenhum dos dois cães de Leopoldo e Leopoldina são desmesuradamente grandes… nem são exageradamente pequenos.
São cães bastante jovens, e ambos da mesma raça… (embora a diferença entre eles, em determinados pormenores, os faça bem distintos).
E esta questão das diferenças tem um importante realce ao dar-mos atenção a certas características físicas que exteriormente neles se revelam… Mas também nas características da anatomia interna eles são bem diferentes um do outro.
Porém eles são semelhantes na personalidade e nas atitudes: não ladram, e não são agressivos… (não mordem).
Mas lá têm as suas coisitas como quaisquer cães...
Leopoldo e Leopoldina são os donos destes simpáticos cachorrinhos (seus amigos)… e aceitam-nos assim diferentes dos demais cães…
















… Um deles foi escolhido por Leopoldo… (é claro: com a aprovação de Leopoldina...) o outro cachorro não… Mas é como se esse outro igualmente tivesse sido escolhido por Leopoldo…

São dois bonitos cães … E são afáveis; e são calmos.
Nunca deitam a língua de fora. Nunca têm fome e nunca farejam… e nunca abanam a cauda… E não se cansam (não correm nem saltam).
Ficam onde Leopoldo quiser que eles fiquem. Mas, do lugar onde ficarem, não param de olhar para Leopoldo… E assim permanecem durante o tempo que apetecer a Leopoldo... São cães sempre obedientes.   















Leopoldo sorri-lhes; faz-lhes festas; conversa com eles…
Eles enternecem Leopoldo e Leopoldina.
Ás vezes Leopoldo e Leopoldina comovem-se com a prodigiosa fidelidade canina com que podem contar por parte dos seus belos cães… – fidelidade que em muito se aparenta à fidelidade canina dos cachorro normais (obviamente que falo – eu o narrador desta história –, quando me refiro aos cães normais, dos cães que comem carne, que roem ossos, que ladram, que correm, que saltam, que largam pêlo nos sofás nas alcatifas nos tapetes e nas carpetes... e que bamboleiam a língua… e que de cauda alçada nos canteiros rodopiam à volta dos troncos das árvores até que encontrem a melhor posição para esguicharem um xixi).













Leopoldo e Leopoldina um dia tiveram um cachorro desses tais cachorros normais (e muito gostaram dele). Mas já foi há muito tempo.
Se hoje os cães de Leopoldo e Leopoldina fossem desses cães normais, Leopoldo e Leopoldina não podiam trazê-los nos bolsos… Nem pô-los em cima das mesas dos cafés, das tabernas, das cervejarias, dos restaurantes, etc…. porque logo alguém, indignado e inflexível, advertiria Leopoldo e Leopoldina… E pelo meio das advertências, surgiriam invocações normativas… (As Leis, as regras, os princípios… Todas essas coisas…).

Mas, à parte todas as limitações e inconvenientes do viver em sociedade num mundo real e “civilizado” – como este que temos e em que vivemos –, Leopoldo e Leopoldina gostam muito do à vontade com que convivem com os seus cães, e do à vontade com que os seus cães convivem consigo… E nesta relação (de uns com os outros – a que se habituaram) reflecte-se toda a simplicidade, naturalidade, e afecto incondicional que os liga.
















À noite Leopoldo olha para os seus cães e puxa para o aconchego dos cobertores da sua cama o maior dos dois. E este, embora o maior, não chega a ter de tamanho palmo e meio de uma mão humana já adulta… e é este que fica, dia e noite, sobre o livro de cabeceira de Leopoldo. E ali fica o bichano com o livro debaixo de si servindo-lhe de pedestal e dia inteiro… (E que melhor pedestal poderia ele ter que não fosse: “História de uma Gaivota e do Gato que a ensinou a voar” de Luís Sepúlveda?).
E o bichano, já regalado sobre os joelhos do seu dono e amigo, vai observando--o na leitura… E talvez com vontade de lhe perguntar:
– “Então a história já chegou à parte em que o gato ensina a gaivota a voar?”

E o bichano continua a observar o dono e amigo Leopoldo até que o vê adormecer.
E então, a certa altura, sob o olhar fixo e vigilante do seu amigo de quatro patas, Leopoldo pende a cabeça e os óculos vão-lhe resvalando pela cana do nariz.

A companheira de Leopoldo (a sua mulher: Leopoldina), ali a seu lado, não ilustra um género diferente de leitor… … E ela aprova a amizade existente entre Leopoldo e o seu cão de cabeceira – bichano que ao mesmo tempo é o guardião do livro do qual, tranquila e gostosamente, Leopoldo retira o prazer da leitura até que o sono chegue para tomar conta si.

Ao outro bichano, o mais pequeno dos dois cães, Leopoldo trà-lo permanentemente no bolso do casaco – este outro oferta de Leopoldina a Leopoldo em Dezembro passado (um presente de aniversário).
E porque não, um cão?.. Pois nem de perto nem de longe a Leopoldo alguma vez chegara notícia de que os cães se haviam desentendido com os Centauros.




                                                                     M. Gama Duarte

                                                                      12 de Janeiro de 2010

Ilustração de M. Gama Duarte / 2015

(Instalação /cenário)
Titulo: Leopoldo e Leopoldina
e os seus cães

  













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