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MENSAGEM AOS VISITANTES DO BLOG

Saúdo todos os que acedem a este meu Blog, venham ou não, de futuro, a tornarem-se visitantes habituais do mesmo.

Apraz-me contar com todos neste espaço de partilha.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015



Asa azul do Silêncio

(A Asa, o Sonho, o Azul, o Rosa… e o Silêncio)






O Homem voaria de verdade se Deus o tivesse provido de asas para assim poder voar. Mas se tal tivesse sido a decisão divina, tê-la-ia sido logo no princípio – aquando da criação de Adão e de Eva (àdam). E, necessariamente, na altura os planos divinos para a humanidade teriam sido outros.

Mas se Deus tivesse criado o Homem munido de asas, o Homem não seria Homem mas sim um pássaro… ou, se não um pássaro, um outro qualquer espécime com aparência semelhante àquela que observamos em certos mamíferos alados. Alguns desses do mundo real, e outros do reino da fantasia.

Imaginemos então este planeta (a Terra) povoado por essa outra humanidade: a fantástica espécie humana munida de asas… – isso em vez da humanidade que conhecemos… Hoje tudo seria diferente do que conhecemos... – a evolução teria tomado um outro rumo, e as consequências seriam incalculáveis.

Mas voar  é um sonho antigo… (um antigo sonho do Homem).

Decerto a cada um de nós já aconteceu acordar e levantar-se do leito com a satisfação de ainda se recordar de um fantástico sonho em que teve a extraordinária experiência de voar “de verdade”... mesmo que no sonho nada tivesse mudado em seu corpo (não tendo nele ocorrido qualquer metamorfose).


Nos sonhos em que voei, que me lembre, no corpo que eu encarnava não existiam asas.

E essa sensação vivida no plano astral (essa “experiência”) de voar, mesmo sem asas, para o ser humano é como que o equivalente ao acto de voar em concreto – do voar de verdade (É da experiência de todos nós que há sonhos em que tudo se nos apresenta incrivelmente real ).

Enfim testemunhamos o quanto o Deus condescendeu com o Homem concedendo-lhe uma asa (a única asa que cada um de nós possui ) …
E com essa única asa que Deus ofereceu ao Homem ele pode voar... (e voa…): essa asa é a asa do seu voo imperfeito – o voo da sua aprendizagem… A asa dos múltiplos e constantes voos de cada um de nós humanos.

… E ninguém por cada um de nós pode voar, porque o voo é individual… E é solitário. (Porém, e não obstante, o Homem naturalmente ser um ser gregário, com tendência para de modo grupal se organizar . E é sob a “lógica” desta condição que nos comparamos aos pássaros.
Cada pássaro, ainda em tenra idade, tem que aprender a bater as asas por si próprio, e por si próprio voar.

A asa do Homem é uma asa mental e espiritual…, e nos momentos dos seus despertares, o bater da sua asa dá movimento e expressão à sua criatividade, à sua inventiva, à sua fantasia… e também às suas esperanças e aos seus desejos.

Poderá um homem acreditar-se munido de asas de constituição densa, porque poderá imaginariamente materializa-las e fixá-las nas extremidades dos seus ombros. E esse exercício poderá ser como que uma invocação do mítico, ambicioso e sonhador, Ícaro…
Mas no mundo real de hoje, quando o ser humano voa deve fazê-lo preferencialmente (é de todo aconselhável) já com a lição aprendida e com toda a prudência.

E assim este Homem voador dos nossos dias (homem ou mulher) passará por uma fabulosa experiência em que vê à prova, de forma peculiar, os seus dons e a sua capacidade operante.  

E se um qualquer de nós (homem ou mulher) estiver sozinho numa praia deserta, com o horizonte a Nascente, poderá em paz e em silêncio perscrutar o horizonte e olhar o firmamento; poderá em paz e em silêncio contemplar a beleza de tudo o que vê, ouve, sente (a criação), e tentar compreendê-lo… E poderá até imaginar que a única asa que por Deus lhe foi oferecida, em vez de ser uma asa mental e espiritual  é uma asa física. Mas a imaginária asa física desse homem ou mulher, frágil penderá sempre, e tocará as areias desenhando nelas o rasto de um destino (o seu destino).

Mas poderá ainda, esse homem ou mulher, elevar o olhar para seguir o voo das gaivotas… – esse sim: um voo  real... – aquele voo dos sonhos do Homem... (da humanidade).
Mas esse ser humano (homem ou mulher) em si terá sempre a sua asa subtil: a única asa com que Deus o muniu… (portanto não necessitará da asa de constituição densa que é capaz de imaginar).

A asa com que Deus muniu o Homem, é a asa do seu voo imperfeitoAsa que poderá pintar de azul, de rosa… Poderá mesmo pintá-la de azul e de rosa, ou de qualquer outra cor… ou cores… E terá também ali, ele ou ela (homem ou mulher), o silêncio.



M. Gama Duarte

16/10/2007


                                                             
                                                                                     
                         
                                                                                     
                                                                                    
                                                                           
                                                                                                                   


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015



Ícaro              
 caro

M. Gama Duarte / 1985

Materiais:
tinta acrílica sobre papel grosso
título:
"A Queda
dos Imitadores de Ícaro"

Ícaro 


















Dédalo, segundo a lenda, foi um notável arquitecto. Mas também se distinguiu como engenheiro, escultor, artesão, inventor e construtor. E, como personagem lendário, encontra-se associado aos mitos da antiguidade clássica grega.
Dédalo era natural de Atenas.
Tinha um filho que se chamava Ícaro e um sobrinho que se chamava Talo. Este último (Talo), além de ser seu sobrinho, e do qual Dédalo se encarregara da educação, veio também a ser seu discípulo.

Dédalo era um artista versátil – de um enorme e reconhecido talento –, e por isso atraía imensa clientela e as encomendas cresciam exponencialmente.
Dédalo recorreu então à ajuda preciosa do seu sobrinho Talo – o qual veio a revelar-se um excelente aprendiz, e no qual Dédalo depositou toda a confiança passando a dividir com ele (Talo) todo o trabalho encomendado.  
Aconteceu que Talo evoluiu extraordinariamente, e Dédalo, movido por sentimentos de inveja em relação o seu discípulo – por o ver evoluir em genialidade ao ponto de ser capaz de superar o próprio mestre –, teve um impiedoso impulso que o conduziu a cometer o bárbaro assassinato do seu próprio sobrinho (Talo).



M. Gama Duarte / 1985

Materiais:
Tinta acrílica sobre papel grosso
Título:
"O Crime de Dédalo"
Dédalo tentou encobrir a sua culpa, mas em vão. É descoberto, julgado pelo Tribunal de Atenas, e condenado à pena capital.
É então preso, e, da parte dos atenienses, Dédalo deixa de desfrutar do respeito e admiração que havia conquistado por mérito.
Passados dias após a condenação, Dédalo consegue a fuga.
Alcança o porto e embarca num navio cujo destino era a Ilha de Creta.







Em Creta Dédalo é recebido pelo rei Minos. E, não obstante o visitante refugiado ser um condenado por prática de crime, Minos recebe Dédalo com honras e não de um modo inverso,

O soberano (Minos) conhece a genialidade e o prestígio do artista recém-chegado. E, face às circunstâncias, Minos por um lado concede protecção a Dédalo e por outro, como moeda de troca, exige do artista a prestação de serviços.



M. Gama Duarte / 1985

Materiais:
Tinta acrílica sobre papel grosso
Título:
"Intimidação"

Dédalo passou assim a trabalhar para o soberano Minos em condições que nada abonavam a favor da liberdade criativa, que tão importante é para qualquer artista. E tudo o que Dédalo passou a produzir, o foi em regime de submissão, subjugando-se aos interesses e às caprichosas imposições do rei e da sua esposa Pasífae.     









Em Creta, a pedido do rei, Dédalo projectou o que veio a ser a sua mais imponente obra, e considerada também, essa obra, a mais grandiosa edificação de todo o mediterrâneo: o Labirinto destinado a aprisionar o Minotauro (a mítica e monstruosa criatura que possuía cabeça e cauda de touro e corpo de homem).
Este monstruoso ser era filho de Pasífae, a mulher de Minos, e de um extraordinário touro branco, pelo qual Pasífae se apaixonara por indução de Posídon (o deus e senhor dos mares).

O mito que nos fala dessa paixão de Pasífae pelo touro branco, conta que Minos tinha a ambição de vir um dia a ser o rei de Creta. E então pediu a Posídon que fizesse com que tal desejo se realizasse.
Posídon atendeu o pedido. Mas, em troca, Posídon pediu que em sua honra Dédalo sacrificado um touro branco que para o efeito lhe seria enviado.
Porém, Minos fica deslumbrado com a extraordinária beleza do animal, e em vez de sacrificar o touro branco destinado ao tal fim, sacrifica um outro touro contando que o deus não viesse a aperceber-se do logro cometido.
Mas Posídon estava atento e não lhe escapou a atitude de desrespeito por parte de Minos. E, a título de castigo pela atitude de desobediência, fez com que Pasífae se apaixonasse pelo belo touro, de cuja relação amorosa vem a ser dado à luz o Minotauro. (Existe também a versão de que foi por intervenção da deusa Afrodite que Pasífae se apaixonou pelo referido touro).
Minos não quis matar o Minotauro por ser filho da sua mulher. Preferiu encerra-lo. E para tal fim ordenou a Dédalo que elaborasse um projecto – o que veio a acontecer: Dédalo, com a ajuda de Ícaro (seu filho) cria o projecto do Labirinto que vem a ser construído na cidade de Knossos em Creta.
O Labirinto era uma colossal e intrincada edificação a céu aberto, com caminhos que serpenteavam, cursos de água e arruamentos sem saída. Era uma concepção de construção a bem dizer à semelhança do próprio palácio real, com inúmeros quartos e corredores de onde dificilmente sairia um qualquer intruso que nele ousasse infiltrar-se.
O Minotauro, em cativeiro e em solidão no Labirinto – onde estava sentenciado a viver –, revelou-se uma criatura enfurecida e voraz, exigindo ser alimentado a carne humana.

Um dia Andrógeo, o único filho de monarca Minos, visitou Egeu (o rei de Atenas).
Durante a visita o rei Egeu convenceu Andrógeo a embarcar na arriscada missão de eliminar a temível criatura aprisionada no Labirinto (o Minotauro).
A tentativa não teve sucesso, e foi fatal para Andrógeo.
Minos reage em força invadindo Atenas. Mas em alternativa a avançar com o arrasamento do território, impôs uma condição: um tributo o qual constava do envio periódico de catorze jovens atenienses (sete donzelas e sete rapazes) destinados a serem abandonados no Labirinto e devorados pelo Minotauro.
Teseu, filho de Egeu, ao ter conhecimento da tirânica imposição, revoltou-se e decidiu libertar o povo ateniense do martírio da tal carnificina. E então, com um plano em mente e determinação, ao aproximar-se o momento da partida de mais um grupo de jovem com semelhante cruel destino, Teseu ofereceu-se para ser um dos catorze sacrificados.
Mas Teseu apenas ao pai revelou o intento de eliminar o temível ser que sinistramente em Creta habitava o Labirinto.
Então, chegado o dia, Teseu parte entre os restantes infelizes jovens com a secreta missão a cumprir por vontade e iniciativa próprias.
Em Creta, Teseu enquanto desfilava juntamente com os restantes jovens a caminho do Labirinto, tem a oportunidade de conhecer a filha do rei Minos (a princesa Ariadna) que estava entre a multidão que assistia ao desfile.
Teseu e Ariadna apaixonam-se um pelo outro, e Teseu revelou-lhe a sua identidade, a razão e o objectivo de se encontrar entre vítimas do triste destino. E revelado o plano a Ariadna, esta tornou-se cúmplice de Teseu e ofereceu-se para o ajudar.
Ariadna recorre a Dédalo e este prontificou-se a colaborar com ela na ajuda a Teseu. E o que Dédalo fez foi idealizar uma estratégia que permitisse que o herói Teseu viesse a conseguir sair do Labirinto após cumprir o seu objectivo.
Ariadna entregou então a Teseu um novelo de fio de lã, e disse-lhe que assim que entrasse no Labirinto deveria começar a desenrolá-lo, e indo desenrolando-o sempre. Pois, seguindo tais instruções, quando chegasse o momento de regressar retomaria o mesmo caminho no sentido inverso não se perdendo, e encontraria assim a saída do Labirinto.


M. Gama Duarte / 1985

Materiais:
Tinta acrílica sobre papel grosso
Título:
"Identificação"
Teseu era um herói no qual os atenienses reconheciam bravura, astúcia generosidade, popularidade e sentido de justiça.














Decidido, Teseu entrou no Labirinto e desde logo estrategicamente pôs em prática a táctica que Dédalo havia idealizado, e que a bela princesa Ariadna, filha de Minos, lhe havia transmitido.
No interior da colossal e complexa estrutura do Labirinto, Teseu procurou o fabuloso Minotauro (o monstro com cabeça e cauda de touro, e corpo de homem), e finalmente se dá o encontro.
O Minotauro encontrava-se em repouso, e Teseu não perdeu tempo. Surpreendeu a criatura e corajosamente lançou-se sobre ela iniciando-se um combate corpo a corpo, e de morte. Toda a força física e valentia de Teseu – sem uso de armas – foi suficiente no confronto, e o fim é mortal para o Minotauro.

(Com coragem e valentia, Teseu livrou o povo ateniense de futuros e brutais sacrifícios. Mas também para o mostro o desfecho que teve a história, significou a libertação da sua natureza ambígena e de assombro (meia humana e meia desumana) – o que o fazia trazia o mal ao mundo. Mas natureza essa que era a consequência de um desígnio do qual o monstro não havia tido inteira culpa).

No exterior, à saída do Labirinto, Ariadna aguardava ansiosamente a chegada de Teseu. E eis que Teseu surgiu são e salvo… e triunfante, trazendo atrás de si os jovens que se encontravam com vida dentro Labirinto e conseguiu salvar.
E, de imediato (sem demora), todos tomam o caminho de regresso a Atenas. Ariadna também ia na companha de Teseu (assim estava pré-determinado – era o desejo de ambos). Porém Ariadna adoece em viagem e não termina a mesma.


Minos ao ter conhecimento do que se havia passado, e do modo engenhoso como o foi, não teve dúvidas de que havia sido Dédalo o mentor do artefacto. E convencido disso, manda encerrar Dédalo com o respectivo filho (Ícaro) no Labirinto.
Ícaro nascera da relação que Dédalo havia tido com Naucrata, que era uma escrava da corte de Minos. Mas Ícaro foi educado e instruído pelo pai. E Minos não poupa Ícaro, encerrando-o também no Labirinto, juntamente com o pai (Dédalo).


M. Gama Duarte / 1985

Materiais:
Tinta acrílica sobre papel grosso
Título:
“Afinidade”
Pai e filho Passaram a viver isolados, alimentando-se de vegetais que colhiam nos locais férteis que havia nas margens dos ribeiros a céu aberto, que corriam no interior do Labirinto. Mas Dédalo, com Ícaro, ia também estudando a forma de se libertarem daquela situação – fuga que, a ser por terra ou por mar, dificilmente não deixaria pistas, as quais seriam aproveitadas pelos perseguidores.







A conclusão foi que pelo ar seria o melhor caminho. Pois se conseguissem inventar um meio de se fazem transportar pelo ar, não encontrariam barreiras. Tiveram então a ideia fabulosa de construírem dois pares de asas que, ligadas que fossem aos seus corpos, os elevariam, voando, para além dos altos muros do Labirinto, e assim conquistariam a liberdade.
Com o plano em mente, Dédalo e Ícaro reuniram uma grande quantidade de penas. Eram penas que se iam desprendendo das aves que cruzavam os céus por cima do Labirinto, e que por ali algumas nidificavam.
Conseguidas as penas suficientes, deitaram mãos à obra unindo-as, uma a uma, com o auxílio de cera de abelhas, a uma estrutura construída com materiais mais duros.

Concretizada que foi a prodigiosa construção, chegou o momento da libertação.
Mas previamente Dédalo, prudente, previne Ícaro chamando-o à atenção para o risco que correria caso subisse muito alto e ficasse demasia perto do Sol. Pois o calor excessivo ameaçaria a consistência das asas envergadas e a sua segurança irremediavelmente ficaria em risco

E, envergando cada um o seu par de asas, que bem ajustaram e fixaram aos seus corpos, num vigoroso bater de asas – ao mesmo tempo que impulsionava os seus corpos para diante – foram-se elevando e chagando cada vez mais alto.
Dédalo e Ícaro voavam para a liberdade afastando-se cada vez mais do presídio a que o rei Minos os havia condenado.
Ícaro, entusiasmado com a singular experiência, esquecera-se das recomendações do pai, e do objectivo essencial, que de todo não era atingir cada vez maior distância em relação à terra segura...
Dédalo, verificando que Ícaro ignorava as recomendações que já lhe havia feito, e preocupando-se com o insensato comportamento de Ícaro, tentou demovê-lo. Mas o jovem Ícaro, incauto e extático, continuava a não ter em conta as preciosas recomendações.
E Ícaro insistiu, subindo cada vez mais alto sem pensar no perigo. E não tardou que o forte calor do Sol começasse a ameaçar a solidez das suas asas, derretendo-as.
Em consequência, Ícaro deixou de ter hipótese de se manter num voo estável, porque as suas asas se iam desfazendo… e foi a tragédia: Ícaro precipitou-se da grande altura a que já se encontrava, sem que qualquer amparo o pudesse evitar.
Dédalo entrou em profundo lamento. E, em terra, numa ilha próxima do sítio do fatídico acontecimento, Dédalo largou as sua asas. Teve a solidariedade da população local que lhe ofereceu um lugar numa embarcação que o levaria até a ilha Trinácria (Sicília).
Na Sicília também era conhecida a genialidade do arquitecto e as suas magníficas obras. E nesta sua nova fase da vida, Dédalo ainda recebeu honras, e a ele recorriam solicitando-lhe serviços – os quais continuavam a conferir mérito ao grande mestre. Mas Dédalo já se havia tornado um indivíduo simples, humilde e modesto, e sem o orgulho que o havia caracterizado também.

Mas, por sua vez, Minos dão desistiu de perseguir Dédalo.
Veio a saber que Dédalo estava na Ilha Sicília. Enviou mensagem ao rei local (Cócalo) manifestando a intenção de capturar Dédalo. E a seguir Minos embarcou para Sicília com a sua comitiva e arsenal militar com o fim de reclamar Dédalo.
Cócalo recebeu Minos fingindo que o acolhia com cordialidade, mas veio depois a armar-lhe uma artificiosa embruscada, da qual o próprio exército de Minos não suspeita. Minos morre, e Dédalo vive até ao final dos seus dias na Ilha Sicília.

Teseu herdou o trono após a morte do seu pai Egeu. Teseu foi um rei adorado e respeitado pelo povo, pela sua bravura, generosidade e sentido de justiça… permitindo que o povo tivesse uma voz activa.  

Egeu veio a ser o nome com que foi baptizado um mar interior da bacia mediterrânica.
O mar Egeu situa-se entre a Grécia e a Turquia, e, segundo o mito, foi nessas águas que o rei Egeu perdeu a vida ao supor que Teseu não tivesse sobrevivido à luta travada no Labirinto com o monstro Minotauro.
Nestas mesmas águas também, segundo o mito, se espalharam as penas das asas de Ícaro, em consequência da sua queda. E, segundo o mesmo mito, essas penas foram-se transformando em ilhas. E uma das versões da origem da ilha de nome Icária, apresenta uma relação desta ilha com a figura de Ícaro.




M. Gama Duarte / 2015


Obs.:
A presente narrativa foi elaborada a partir de uma compilação, que previamente preparei,  recorrendo a textos encontrados na net e a outras fontes literárias. 
(É de agradecer a toda a obra a que nos é dado acesso, e que verdadeiramente nos amplia o conhecimento e nos proporciona a reflecção.
E todas as versões, mesmo que contraditórias entre si, são matéria que merece a nossa atenção, porque nos convidam a um exercício).



sexta-feira, 11 de dezembro de 2015






– Onde Estás, Sr. Pedro?…



M. Gama Duarte / 2015

(Cenário)

Título:

Miragem - 1








Já com Deus?...














M. Gama Duarte / 2015

(Cenário)

Título:

Miragem - 2

(lá em cima?)…




























M. Gama Duarte / 2015

(Cenário)

Título:

Miragem - 3


no Último Piso do Universo?...















(O Sr. Pedro) 


Há anos que existe um pequeno restaurante – ou uma cervejariazinha, ou uma pequena e simples “casinha de pasto”… ou o que for, consoante o parecer de quem nela entre, ou de quem apenas passe perto e sobre ela lance um terno olhar...

Confesso que a minha simpatia, por alguma razão, pende para o último dos pareceres: uma pequena e simples “casinha de pasto”.

Esta simpática “casinha de pasto” há anos que existe, mas já lá vai o tempo em que dela éramos clientes (eu e a minha mulher) de quase de todos os dias. Mas hoje em dia, quando não é o caso de entrarmos, passamos, prendo nela o olhar, e discretamente espreito.
E apraz-me notar que desde esse tempo até hoje quase nada nela mudou: o mesmo verde nas ombreiras da entrada e nos caixilhos das vidraças; as mesmas mesas e cadeiras a ocuparem um exíguo pedaço no passeio debaixo do toldo e a contornarem a esquina; também da banda exterior os barris de cerveja (uns cheios e outros vazios) arrumados entre a esplanada e a parede; os mesmos clientes (salvo um ou outro cujo rosto me parece desconhecido) de copo aviado; cigarros consumindo-se num arder lento e silencioso, num vai e vem entre os dedos de uma das mãos, que ora pende ora chega à boca num empurrão de gestos sucessivos e tranquilos; as mesmas vozes no geral, e o mesmo gesticular… etc. etc.



M. Gama Duarte /2015
Na foto:

"Pinhal do Sapal de Corroios"

   








Quando apenas passamos, e à distância olho e discretamente espreito para o interior, na realidade só vagamente me é perceptível se algo tem vindo a mudar desde esses tais tempos… Mas, mesmo assim, pelo que distingo também os proprietários são os mesmos. E nas prateleiras as garrafas conservam o mesmo poiso… Bem como a decoração das paredes, entre a garrafaria e o tecto, aparenta não ter mudado: os tradicionais partos de barro pintados à mão, típicos do Alentejo; os utensílios rústicos diversos em cortiça; as cabaças de tamanhos variados com fantasias coloridas; os mesmos cheiros a chegarem-nos ao nariz e a atiçarem-me o apetite – tudo ainda familiarizando-nos... etc… etc.


Na Foto:
Cervejaria Alentejana



Um agradecimento especial à gerência da Cervejaria Alentejana pela gentileza de me ter permitido recolher fotograficamente, no interior do seu estabelecimento, a imagem acima apresentada.                     




Sempre que passamos e o tempo recusa dar-nos tempo para pararmos, questiono-me sempre: qual o dia em que foi a última vez que parámos e lá entrámos…(?): há dois?...; há três?... há quatro?...; será que foi há cinco?...
E debruço-me sobre a questão… e concentro-me de seguida num nostálgico acerto de contas com o tempo (e quando questiono se há dois, se há três, etc. etc., refiro-me a semanas, a meses, ou a anos). Mas não atino num resultado de contas feitas que me dê alguma certeza, e conformo-me com a desculpa de que os dias vão passando e mal se dá (ou damos) por isso… – é aquele incompreensível emaranhado: os tais novelos a que nos habituámos a chamar semanas, meses… ou anos… E é assim o tempo (aritméticas em que me confundo e perco)… E sucumbiria a um qualquer esforço que exigisse à minha memória recordar-me de algo que, no fim de contas, em nada ajudasse a fluir mais luz sobre aquela manhã (a tal manhã) da qual, afinal, hoje veladamente me recordo (são hoje quase só sensações), mas: uma manhã calma e clara, com uma temperatura suave e fresca… e de quando em vez uma brisa a disfarçar-se de um envergonhado sopro. E, de súbito, um fino aroma a café quente a dissolver-se no ar… trespassado de uma soalheira bênção que vinha do alto: de  entre as nuvens de um céu a acordar feliz para um novo dia…
Desfrutava-mos do nosso primeiro café da manhã… Havia sido um acaso – não um acaso tomarmos um café àquela hora da manhã, mas sim um acaso os nossos passos nos terem encaminhado para aquela pacata cervejariazinha de bairro, onde até então nunca tínhamos entrado.


M. Gama Duarte / 2015
Na foto:
Moinho de Maré de Corroios











M. Gama Duarte /2015
Na foto:
Moinho de Maré de Corroios













Sentámo-nos na mesa de dois lugares que se encontrava mais próxima da estreita porta e das amplas vidraças.
Um pico de curiosidade ia agitando o nosso olhar.
Era um espaço que desconhecíamos (era uma evidência…). Mas sempre gostámos de novidades e a experiência do momento era agradável…
Na fachada da entrada a pala do toldo verde, fixo a dois palmos acima da porta, ondulava levemente.
Do lado em que a mesa se encostava à parede interior, um recorte de papel branco em forma de triângulo e colado aos azulejos, informava o cliente, a letra grossa de marcador azul, sobre o menu do dia. E dizia:  


Hoje temos:

- Caracoleta grelhada
- Pipis
- Choco frito
- Pezinhos de coentrada
- Saladinha de orelha
- Saladinha de polvo
- Pica-Pau
- Sandes diversas
- Sopa do dia

Bom apetite



Por esta ordem, ou por outra, era informação que logo me despertara a atenção.

Fomo-nos tornando clientes habituais daquela pacata “casinha de pasto”, e, a bem dizer e por boas razões, além de clientes era-mos sobretudo fãs da sua cozinha. E, certo dia, ali aconteceu conhecermos o senhor Pedro – personagem a quem, em homenagem, dedico a presente crónica.



O Sr. Pedro era na altura pessoa para perto dos oitenta anos. Um tipo humano simpático e bem conservado de feições. Do género conversador… Indivíduo também educado e de uma admirável memória. Um cavalheiro em excelência. Porém tratavam-no mal as suas pernas e os seus joelhos – o que o cansava e o deixava por vezes quase num perder folgo. Mas no seu rosto sempre aquela expressão na qual se lia um misto de sofrimento, bondade e conformação, que nele se traduzia numa aceitação quase estóicas de toda aquela sua condição – fenómeno que nos causava admiração e nos comovia. 

Uma vez, derivado às humidades e ao frio – combinação de aspectos climatéricos a que era especialmente sensível – o Sr. Pedro adoeceu. Foi-nos dito (alguém que sabia pormenores nos disse) que o mal o tinha atirado para a cama.

Por uns dias deixámos de nos cruzar com o Sr. Pedro.
Nem o víamos na rua fazendo as suas curtas caminhadas para conservar a mobilidade das pernas, assim como deixámos de o ver naquela sua outra rotina habitual: o cliente aficionado da mesma cervejariazinha da qual havíamos também passado a ser clientes… – aquela sua rotina: entrando, saindo, voltando a entra… e a dar a salvação a toda a gente… – entretendo-se assim.  

Á parte as vezes em que nos cruzávamos com o Sr. Pedro, ou o tínhamos entre nós, ou ele circunstancialmente convivia com o restante cliente da cervejariazinha (“Cervejaria Alentejana”), nunca via-mos o Sr. Pedro acompanhado… O Sr. Pedro sozinho era aquela presença serena e afável… Nostálgico (?) quase sempre!... Ele era como que um “ humano arquipélago de saudades”… a sua ideia muitas vezes lá longe, no Mar (no Atlântico), onde a sua alma navegava de cá para lá e de lá para cá… atracando às vezes num cais de amenas conversas: desabafos; confidencias; manifestações de afecto… e saudades e mais saudades…
Um cais de amenas conversas, que era algumas das vezes, e por exemplo, a mesa que ocupávamos e tendo o Sr. Pedro ao nosso lado. Sempre de pé junto a nós. Convidava-mo-lo a sentar-se a nossa mesa mas ele nunca aceitava sentar-se… assim como não aceitava partilhar do que lhe oferecíamos.
– “Vai uma tirinha de choco, Sr. Pedro?... Prove que está delicioso? “ – Oferecíamos-lhe, de vontade.
Mas o Sr. Pedro preferia o seu queque e o seu galão… ou em alternativa ao galão um tisanazinha, no sossego do seu cantinho que ficava a não mais que dois metros da nossa mesa… Mas ele sozinho.
E de quando em vez lá o assolava a nostalgia e a tristeza (a saudade que vinha chorar aos seus olhos e no seu coração)… Eram alturas em que invariavelmente ele vinha ao nosso encontro… aproximando-se da nossa mesa… e recordo: era o seu olhar no nossos olhar e o nosso olhar no seu olhar…
Um seu olhar que, além da saudade, nos trazia a sua voz. E: 

– “Sodade sodade
Sodade
Dess nha terra Sao Nicolau”

Era como que uma maneira de nos agradecer e gratificar pelo carinho com que sempre o acolhíamos, e a consideração e o respeito que por ele tínhamos.


Pintura Africana
Imagem recolhida da net
(Vitrais Africanos) 













Nem sempre era esta a canção que nos cantava… às vezes eram as suas próprias canções – canções que havia composto em tempos, enquanto músico que foi e que ainda se sentia (compositor e interprete de mornas cabo-verdianas)… E também enfermeiro-parteiro ele havia sido… E também treinador no futebol, ensinando jovens… E também embarcadiço. E além de homem de sete ofício, e artista, o Sr. Pedro era pai, avô e chefe de família.



Pintura Africana

Imagem recolhida da net

(Vitrais Africanos)
















Mas o Sr. Pedro tinha então cerca de oitenta anos de idade… e tinha a sua tez morena… Um cabelo farto, ondulado e negro e penteado da fronte para a nuca (talvez o pintasse…) E havia anos que o Sr. Pedro não visitava a terra onde sua mãe o dera à luz (a sua terra natal)… E então por isso que saudades – que saudades de Cabo Verde… E quantas as saudades só ele sabia dizer.



Pintura Africana

Imagem recolhida da net

(Vitrais Africanos)













Quando o Sr. Pedro reapareceu a seguir à doença, vinha naturalmente mais combalido e menos conversador... mas na mesma o Sr. Pedro simpático…
Não sabíamos como na intimidade do lar as coisas se passavam consigo... Não sabíamos com quem partilhava o chão, a mesa, a cama, o respeito e a generosidade que lhe ia no coração.
Mais tarde nova ausência do Sr. Pedro a sobressaltar-nos… – (pessoa que nós sabíamos ser doente, e sabendo nós também que de um momento para o outro outros males poderiam afectá-lo e debilita-lo mais ainda).

Piorou (calculámos). Estranhávamos… e sentíamos também a sua falta.
Com alguma preocupação perguntámos ao Sr. Manuel (o proprietário da cervejariazinha) se sabia a que se devia a ausência do Sr. Pedro.
Cuidámos que fosse-mos surpreendidos com uma má notícia. Não foi boa a notícia, mas também não foi a pior notícia:
O Sr. Pedro está doente e de cama… E não sei se o voltaremos a ver por aí… É que já lhe custa muito sair à rua.

Entristeceu-nos saber que o nosso amigo não estava bem.
Sentimos vontade de o visitar. Mas não sabíamos onde ele morava nem conhecíamos, fosse quem fosse, familiar ou amigo, que nos fornecesse dados que nos permitissem chegar junto do Sr. Pedro.
Soubemos entretanto que a sua morava ficava apenas a uma centena de passos de onde nos encontrávamos habitualmente e convivíamos (nesses tempos em que víamos o Sr. Pedro ainda com uma relativa saúde). Apenas ficámos a saber que vivia perto… só isso, e sem pormenores.

Os dias passavam. E do Sr. Pedro nem um sinal…
Nunca chegámos a saber exactamente onde ele morava.
Entretanto andámos por uns tempos por outras paragens… Outros rumos e caminhos haviam dado fé dos nossos passos: o longe; o perto; as horas que passamos a modelar ao nosso jeito (como um outro jeito) como se elas fossem uma massa argilosa... E os lugares: o aqui; o ali; a bússola dos nossos dias e do nosso tempo

Ao voltarmos, tivemos a sensação de que já não havia quem falasse no Sr. Pedro. Mas isso (essa sensação) não era o que era certo: era apenas uma vaga e irreal sensação. 


Havia-mos ganho uma certa afeição pelo Sr. Pedro…
Havia em nós uma saudade da sua piedade, do seu respeito, das suas atenções… Das suas gargalhadas quase mudas que ele soltava pelo meio das histórias que nos contava, e que quase lhe cortavam a respiração, fazendo-o debruçar-se sobre a nossa mesa e firmando as mãos abertas sobre o tampo… e depois com a sua ternura e ainda a sorrir: “Ai ai… Desculpem lá isto, meus filhos.
Mas eram também, noutros momentos, as suas lágrimas – isto quando eram aquelas histórias em que sentimentos mais profundos delas emergiam, e o punham inconsolável.

Mas se tivéssemos procurado o S. Pedro, será que ainda chegávamos a tempo?
Chegámos a pensar que Já não encontraríamos quem nos falasse dele (a tal sensação que não era o certo…  Que havia sido apenas uma vaga e irreal sensação). 

Da vez seguinte que entrámos na “casinha de pasto” (a “nossa” cervejariazinha), não nos foi suficiente a coragem para perguntarmos pelo Sr. Pedro… Receámos que, em vez da resposta: “Ah!... o Sr. Pedro já vai saindo e já vai aparecendo por aí…”, ouvíssemos o que mais nos entristeceria. 

Saímos da cervejariazinha (Cervejaria Alentejana) e, mudos… sem uma única palavra pronunciarmos, perguntámos directamente ao Sr. Pedro:

 


M. Gama Duarte / 2015

(Cenário)

Título: Miragem - 4 
– “Que é feito de ti, Sr. Pedro?... Onde estás
neste momento?...
Será que Já com Deus,
lá em cima,
no último piso do Universo?...




















M. Gama Duarte / 2015
(Cenário)
Título:
Miragem - 5 
























M. José Gama Duarte
                                                                                     
03 de Outubro de 2011







Foto (1)









Foto (2)


Foto (3)







Foto (4)


















Nas fotos 1, 2, 3 e 4:

Cesária Évora

Fotos encontradas na net e que aqui apresento (cópia) em homenagem à cantora, a título de invocação e simbolicamente assumindo a forma de um fraterno abraço à sua memória.