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quinta-feira, 10 de setembro de 2015

    Aquando
    amenas e ténues
    sombras d’Agosto
















Nas minhas duas últimas mensagens de Agosto (a 17 e 20 do mês), partilho pequenos flaches (detalhes) do imenso que dos dias passados me foi ficando para lembrança … … …
E, nesse propósito, reencontro-me com imagens (registos fotográficos que fui recolhendo e guardando… Ora aqui ora ali, e em pleno e bem gostoso veraneio…)
… E quão cúmplices (e sensíveis) os meus sentidos se foram revelando…
… E também breves linhas me mereceram registo (pequenos e simples apontamentos…), através das quais (linhas essas) procurei transmitir o que não me foi possível transpor para suporte digital com auxílio de um leve premir do botão. E, em alternativa, que um outro instrumento que não a palavra ? ... – (a palavra) que é um outro jeito de compreensão, ou de interpretação… – (um outro recurso).

… E: meu deus… – que deslumbrantes são as terras do Douro!
… Por lá os meus sentidos iniciaram a inédita viagem… (pela primeira vez para além Porto)… 


E logo, poucos dias depois, a revisitação (já menos a Norte) dos rios da Beira e das respectivas margens povoadas de aldeias; a revisitação das vilas… e de seus arredores… E a revisitação dos mais simples lugares, que também se orgulham (com razão) da sua original beleza…
… E tudo isto a aliviar-me saudades… – saudades da não menos deslumbrante Serra da Estrela…     









































– “A SERRA DA ESTRELA É O LUGAR MAIS BONITO DO MUNDO” (O Título… – frase que de imediato assolou o meu pensamento)…







… E esta frase é, ao fim e ao cabo, nem mais nem menos que o título da magnífica crónica de António Lobo Antunes: “A SERRA DA ESTRELA É O LUGAR MAIS BONITO DO MUNDO”.



















Há um princípio (um momento primordial, num certo tempo) em que assentam as raízes de todas as coisas… - assim penso… sem todavia saber (ou estar ciente) se estou certo.



































































Mas adiante… E neste Adiante recordo uma crónica que tenho escrita há quatro anos: 








Férias de 2011…























(e com prazer ele recordava esses dias…).
À chegada Abasteceram-se no comércio local da vila do que lhes parecia ser o essencial para o sustento nas primeiras horas do seu descanso merecido (as férias).
Mas havia sempre algo que esqueciam, ou que forçosamente tinham que procurar no comércio alternativo… (pois era a um Sábado).
E ele, daquela vez – não sendo porém a primeira vez… - ficou no parque de estacionamento a ver a companheira entrar no “Super”… De resto era só esperar.
… … …


Ela finalmente regressava…
Regressava carregando o saco com aquele pouco que lhes faltava… e mais um pequeno volume rectangular que não coubera junto às mercearias – ou tendo ela preferido, com toda a razão, transportar esse volume na mão (bem à parte).
Ele levantou-se calmamente, mas decidido, e foi ao encontro da sua mulher.   
(Ela sempre o surpreendeu e continuava a surpreendê-lo, uma vez por outra, com uma inesperada mas interessante e útil compra extraordinária… E não seria aquela vez a excepção).

Já próxima, e com um brilhozinho nos olhos, ela estendendo o baço na direcção do marido e apresentou-lhe o livro que trazia:   


ANTÓNIO
LOBO
ANTUNES

QUARTO LIVRO
DE CRÓNICAS

OBRA COMPLETA
Edição ne varietur


Editora:
D. QUIXOTE

(a 2.ª Edição)





Surpresa total… E que agradável era aquela surpresa!…


Chegaram em 15 minutos ao seu Micro-Paraízo: uma modesta casa rústica… – uma casa térrea e pintada como ordena a velha tradição do Sul – ou melhor dizendo: uma casa entre o Guadiana e o Atlântico (que mais dizer?...)


… Um quintal, onde nos canteiros brancos florescem roseiras que dão flor de intensas tezes de vermelho… E também lírios lilases… e também árvores de frutos (laranjeiras, um limoeiro, uma figueira, uma macieira, um diospireiro, uma tangerineira… videiras), ervas daninhas que vão crescendo… Um poço a céu aberto, e quase esquecido... …E o céu ali… – ali, a dar ares de ser todo deles entre o verde a fazer-lhes sombra, os muros caiados e os beirais do casario ao longe… E a parecer-lhes também que esse céu, naquele lugar, existe exclusivamente para si (para eles…)
Um espectáculo interminável que se passa num imenso palco pintado de todas as nuances de azul… e onde os personagens são sempre: ora as estrelas, ora as aves…

No momento seguinte aos 15 minutos de caminho entre a vila (Grândola) e a Aldeia da Justa, eles cuidaram do braseiro; amanharam o peixe; prepararam o tacho para as batatas; passaram no fio da torneira as verduras para a salada; esticaram sobre a mesa a toalha comprada no Mercado Municipal da vila… E ali já tudo estava em ordem debaixo da melhor sombra… E, a certa altura, ela que trazia ainda aquele brilhozinho no olhar – ao que acrescentou uns pozinhos de orgulho pelo seu melhor investimento do dia (o quarto livro de crónicas de António Lobo Antunes) – parecia que naquela ocasião se havia esmerado especialmente no dispor das loiças, no colocar os talheres, e no zelar de tudo o mais que competia...


Em resposta aos delicados gestos da companheira, ele deu um ar de admiração – um ar que ela percebeu por entre a fumaça do grelhado quase já pronto a servir…

E ela então comentou, sorrindo:
– “Não sei se ainda te lembras, ou seja: não sei se ainda não te esqueceste…
… – É que hoje temos um convidado… Mas o célebre convidado que hoje temos, só está disponível para se juntar a nós à hora da sobremesa: estou a falar do nosso estimado António Lobo Antunes, como já sabes…”


Chegado o momento em que se sentaram, ela ausentou-se por um minuto, deixando-o a ele – ao companheiro – sozinho à mesa.
Mas logo ela reapareceu com o António Lobo Antunes “pela mão”… e colocou-o com todo o carinho, e respeito, num dos cantos da toalha.

“QUE CAVALOS SÃO AQUELES QUE FAZEM SOMBRA NO MAR?” –  a primeira crónica que Rosa lê (“QUE CAVALOS SÃO AQUELES QUE FAZEM SOMBRA NO MAR?”, também o nome de um dos romances  de António Lobo Antunes).


… E ela não parou… (não parava… – ia lendo… lendo.. lendo sempre). E lá foi virando página após página… (e lendo sempre… Sempre).
E a certa altura os olhos do companheiro começam a humedecerem-se de comoção… - Comoção pela excelência, pela beleza; pela distinção e verdade da escrita a que António Lobo Antunes já os habituara… mas sempre maravilhando-os a eles, e ao mundo… Não apenas demonstrando a inegável seriedade, o humor e alto nível nas crónicas… (nas crónicas sim…  há essa autenticidade…), e nos seus romances também, e até mais superiormente.


Ainda em Agosto… E ainda em férias (a uma Quinta-Feira).

Resolveram passar o dia romanticamente em Sesimbra, e lá jantarem num restaurante simples com esplanada perto da lota e com vista para as águas calmas do Sado, e para o Sol ao pôr-se.

Estavam a postos para saírem de viagem. O carro ainda desligado. Desta vez ela ao volante (a ele nenhum prazer especial lhe dá conduzir. Por isso é dela a responsabilidade da condução na maior parte das vezes).

Entretanto há um silêncio… Há qualquer coisa que Rosa quer dizer… E após breves segundos, ela fixa o seu olhar no olhar do marido e:
– “É isso!… – apenas me queria concentrar...
Marido, por favor, sobe lá a casa, vai ao nosso quarto e traz o António Lobo Antunes… E não te esqueças do CD que faz parte – vem incorporado no livro do lado de dentro da capa (tu sabes)… que é a leitura das crónicas… Vamos ouvi-lo a ler as suas crónicas no caminho”.
Ele acatou, com agrado, o pedido da companheira – que fazia todo o sentido naquela ocasião.

Ele então subiu, botou a chave na porta, entrou e foi direitinho ao quarto. Aí, com cuidado, contornou a cama para chegar à cabeceira do lado em que ela (sua mulher) se deita desde sempre.
Já perto do ponto em que livros e mais livros, revistas e mais revistas e sebentas, todos os dias se vão empilhando, foi apenas um relance de olhar e um estender de braço.
Ele então abriu o livro, como o recomendado, para se certificar que o CD não faltava... E ele aí estava…

E o seu corpo “apoiado no outro seu pé” (o pé oposto àquele com que tinha voltado a casa), fez e caminho de retorno, descendo dois andares até à rua, e entrou de novo no carro que já se ouvia.

Trocaram umas breves palavras, aproveitando elas as suas para perguntar ao marido: “O livro sempre estava onde te indiquei?... ” – pergunta a que ele simplesmente respondeu: “Sim!... estava lá… e bem à vista… Foi fácil”.

Instalou-se a seguir um expectante mas tranquilo silêncio, até que a voz de Rosa rompe o silêncio:
- “Podes pôr já o CD no leitor… caso queiras..."
E o caso era que ambos estávamos ansiosos por ouvir o António Lobo Antunes lendo as suas crónicas.    
                                                


M. Gama Duarte
19 de Agosto de 2015

     

   




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