123456789

123456789

MENSAGEM AOS VISITANTES DO BLOG

Saúdo todos os que acedem a este meu Blog, venham ou não, de futuro, a tornarem-se visitantes habituais do mesmo.

Apraz-me contar com todos neste espaço de partilha.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015




O Ritual

            da escrita

                                                                                                                                                                                                 


 A só
ou num "Mais Além"
















M. Gama Duarte / 2015
(Instalação)

Título:
O Ritual da Escrita - Plano 1




Páginas
… páginas e páginas…
… E margens… 

... Margens e margens de amplidão e um pálido vazio em superior evidência…
Hilário olhava para os seus cadernos (para as suas folhas), e reparava na superior evidência da amplidão e do pálido vazio das margens – comparadas que fossem com a mancha do corpo das palavras nelas escritas…

Para Hilário a escrita representa um exercício de encontro com um certo centro…E em cada página esse certo centro é habitado pelo corpo das palavras.

E os registos em cada página prefiguram assim a consumação de uma fina e discreta fuga em busca desse centro
Todavia sem que seja exigência do autor (e actor) o  refugiar a letra e a palavra em aparentes formas de poesia.




O Ritual da Escrita - Plano -2 





O centro !…
Para o centro!!!... (“O Grito”).
E o que seria “O Grito”?... – uma recomendação (?); uma ordem (?); um ultimato (?)… Talvez fosse, ou acontecesse, um pouco de tudo o que lhe fosse permitido imaginar…

… E talvez Hilário não domine a superior e subtil ciência da interpretação das vozes e dos sons... (ou talvez me engane).


Ritual da Escrita - Plano -3
Porém, em consciência ou por instinto, Hilário procurava aquele centro que iria ser “O Mais Além” – (mera concepção… ou simplesmente uma sumária conclusão… – um exercício em que se inverte os hirtos e clássicos pressupostos).
Hilário remetia-se assim para uma imobilidade esfíngica, búdica, totémica… ou para uma virgindade órfica.

Mas nunca para Hilário o centro foi tão o centro  enquanto cenário perfeito para o ensaio de uma nova simbologia do “longe de tudo” ou do “Mais Além”.
Mas, apesar “de tudo”, sentindo Hilário o centro como eixo de si próprio: eixo dos seus movimentos e dos seus pensamentos.


M. Gama Duarte /2015

Lughar:
Palácio da Cerca
(Almada Velha)
Fora do centro (no periférico e no além todos os limites) é a aventura – um outro sentido e uma outra perspectiva da fuga (ao mesmo tempo uma perspectiva de busca).

Hilário é o eixo de si próprio: eixo dos seus movimentos e dos seus pensamentos. Entrega-se a essa disciplina através da qual se reconhece, e quando se reconhece reconhece-se como individuo fruto de um plano ou de um acaso.

Como se iluminarão os caminhos dentro de Hilário?... Talvez se iluminem à chama da sua chispa divina interna. Hilário não é de todo descrente (não será, por assim se entender, um agnóstico).      


Os horizontes mais magníficos, mais fantásticos, mais edílicos, ele procura-os dentro de si… e não através de janelas… ou abrindo portas, ou pulando muros, ou fitando o céu à transparência de eventuais clarabóias… (nos tectos de Hilário não existem clarabóias… Mas mesmo assim ele valoriza os seus tectos, e perscruta o universo através deles).


M. Gama Duarte /2015

Lugar: Qt.ª do Rouxinol (Corroios)
Tema: Nocturno
Título: Outros luares 
No centro, a partir de onde Hilário parte “para habitar o mundo”, os tectos são o pano de fundo que, ao seu olhar, mais se assemelham com o céu… À sua maneira ele pinta as nuvens sobre esse pano de fundo… E suspende nesse mesmo pano de fundo, umas vezes um sol, outras vezes uma lua… e atribui a esse sol e a essa lua o estatuto e a função de pêndulos do tempo…


 

M. Gama Duarte /2015

Lugar: Qt.ª do Rouxinol (Corroios)
Tema: Nocturno
Título: Outros luares
O tempo é uma lâmina de golpe preciso ao traçar as rugas nos rostos… (Deus perdoa mas a idade não… – tenho dito… e escrevi-o um dia algures… e mais uma vez o digo aqui, nesta crónica)… E as amarguras são o ácido que descolora os cabelos, tornando-os grisalhos e esbranquiçados e quebradiços…


M. Gama Duarte /2015

Lugar: Qtª do Rouxinol (Corroios)
Tema: Nocturno
Título: Outros luares 
Na mente de Hilário, o centro nunca foi tão o centro… E o círculo nunca foi tanto como hoje a figura geométrica “perfeita”… E em Hilário o ponto/centro, por isso mesmo, encontra-se ainda mais ao centro… E assim Hilário por vezes se encontra só… e tudo o mais se torna distante… – para de todo o concreto: para lá das vidraças, para lá de portas, para lá de quaisquer barreiras… para lá das imagens que, entre caixilhos, marcam presença nas paredes e lhes vai engolindo o estuque, ora aqui ora ali.

  

M. Gama Duarte /2015

Lugar: Qtª do Rouxinol (Corroios)
Tema: Nocturno
Título: Outros luares
Hilário é agora quase unicamente pensamento. Ou o que é por ele sentido não será nada mais que um estranho exercício de existência, e sentirá que tudo agora poderá ser ainda mais circular… E que o seu corpo poderá ser o produto lúcido e lúdico de uma acto prodigioso da sua imaginação.

Hilário entra dentro de si e aí se procura e se instala (por algum ponto ele entra em si próprio… mas por onde, e como, Hilário o fará?).
No seu habitat (no seu espaço existencial interno) ele sente por vezes a necessidade de manter portas trancadas, janelas seladas, clarabóias embaciadas (sem transparência)... E até quanto às pontes existentes dentro de si (se elas existirem), elas serão em forma de círculo, tocando-se e unindo-se os extremos do fio que desenha esse círculo.   





O Ritual da escrita - Plano -4
Hilário olha para si próprio. Encontra-se sentado. Sentado no centro de um círculo… (O seu corpo cedeu… quebrasse-lhe sobre a cadeira onde se sentou).
Hilário olha depois para o alto (o tecto: “o seu céu”). Procura os pêndulos do tempo: o seu sol e a sua lua. Estes (o seu sol e a sua lua) giram em círculos concêntricos, e constantes, que lhe fazem recordar a fronteira circular de si próprio… E é entre fronteiras (as suas fronteiras) o lugar onde a natureza de alguma forma se realiza e se reactualiza através de ritualísticos sopros de vida.  



O Ritual da escrita - Plano -5
Hilário, sentado, sonha: vê aproximarem-se de si segmentos e mais segmentos. Ele toma-os, um por um… nas suas mãos… Seguidamente efectua a ligação dos respectivos extremos… e lança-os a seguir no espaço. E lá vão os círculos subindo, subindo, perpendicularmente ao seu ser.






M. J. Gama Duarte
                                                                                                  
21 de Maio 2012


Sem comentários:

Enviar um comentário