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sábado, 14 de março de 2015




Instalação / 2015

Titulo: O lugar e a relação entre os objectos
Concepção e montagem: M. Gama Duarte
Assistente de montagem e registo fotográfico: Artur Duarte 


Descrição e origem de alguns dos elementos
que entram na composição da instalação acima apresentada.

Ao alto e ao centro:
- Reprodução, em formato de postal, de uma tela (pintura a óleo) do artista plástico Jaime Silva.
Tamanho real da tela: 148 cm x 240 cm.

À direita no alinhamento da janela:
- Foto da porta de um prédio antigo em Lisboa (Lapa), reproduzida em formato de postal.

Sobre a mesa, ao centro:
- Reprodução, em formato de postal, de um desenho do artista plástico Almada Negreiros.   






O apego
no sentido do correcto
e devido lugar das coisas

Um livro é um corpo… – um corpo inteiro, com tudo nele existente...”



Pergunto:
– Será que nos é fácil plenamente aceitar o apego no sentido do correcto e devido lugar das coisas?...

Parece-me (e será) evidente que o sentido de orientação tem uma relação directa e íntima com a memória. Se acertamos com o caminho é porque existem referências, e é lógico encontrarmos a ditas referências nos lugares certos.

Se um olhar nosso sobre nós próprios nos privilegia, oferecendo-nos a imagem (mesmo que ilusória) de um ser, na melhor das hipóteses quase completo, a partir daí não dispensamos nenhum dos nossos sentidos no assumir e no cumprimento de uma vida que tentaremos que seja plena.
Cada um dos nossos sentidos possibilita-nos um tipo e qualidade específica de percepção – quer quando à distância focamos a observação num determinado ponto, quer quando nos relacionamos com as coisas num contacto mais físico.

E também me ocorre questionar:
– Que sensação experimentaríamos ao darmos conta de que faltavam as notas musicais mi, lá, si e dó, numa riquíssima melodia por nós conhecida de há muito tempo enquanto ouvia-mos?
Experiência estranha seria também encontrar-mo-nos de olhos postos num quadro que nos fosse bem familiar, e riquíssimo também (neste caso uma riqueza cromática), e constatarmos que lhe haviam sido suprimidas as cores: vermelho e azul.  

E imaginemos agora a colocação, em sítio errado, de um importante e indispensável objecto num ritual de cariz religioso, no momento crucial da celebração litúrgica.
E imaginemos também a supressão de um importante elemento de ligação num conjunto que é harmónico por natureza.
E imaginemos ainda uma incorrecção ortográfica notada numa palavra que transmite, traduz ou incorpora, um conceito muito especial e delicado.

Todas estas roturas afectam em termos gerais, ou em particular, a ordem e a coerência do que conhecemos em seus papeis conciliadores e estruturantes. E podem tais acções ou incidentes: troca, supressão, anomalias, etc., serem potenciais causas de desarmonias, deturpações, ambiguidades, desagregação e outras consequências. Enfim, um risco para a compreensão, a pureza, e a integridade do que quer que seja alvo de tais experiências

Que efeito presenciaremos se, por exemplo, subtrairmos ou trocarmos de posição uma ou duas letras nas palavras “TRANSCENDÊNCIA” ou “DIVINO”?
A estranha e inaceitável leitura da palavra provocará no nosso plano emocional efeitos lesivos ao nível da simpatia, da seriedade, da credibilidade e da confiança.
Não vemos aqui unicamente desafiadas a lógica e a rectidão que estão puramente associadas ao rigor da grafia e da língua. Ressalta na conjuntura o respeito devido a estas palavras, comprometidas com um místico significado,  e que merecem…   


Qualquer cultura humana que haja florescido, ou venha a florescer, valoriza os seu símbolos, os seus códigos, a sua escrita… e a sua linguagem. Estes instrumentos permitem veicular o conhecimento, o saber, as tradições e os valores essenciais da identidade. E assim se perpetuam esses bens imateriais.                                 


O estilo da letra, com a sua estética e expressividade próprias, é outro aspecto de relevância quando se recomenda atenção no processo de escolha do tipo de letra destinada a ser utilizada numa inscrição, ou texto, a pôr ao serviço de algo de revelada importância que tem que ser comunicado.
No momento da decisão por este e não por aquele estilo de letra, o individuo que optou, ou escolheu, estará já a agir influenciado por um certo sentimento e profunda compreensão do fenómeno, e ciente da responsabilidade específica que tem que assumir. Pois o seu mental havia estudado bem a questão antes de determinar o estilo de letra… quer a letra se destinasse à capa de uma obra literária clássica que se imortalizou, quer se destinasse a ser impressa sobre o cetim de um estandarte, quer se destinasse a ser gravar no friso do portal de um templo.

A letra serve a palavra. A palavra serve a mensagem. A mensagem serve o Homem. O Homem está atento e procura interpretar os fenómenos físicos, os fenómenos da mente e os fenómenos do espírito.


Num texto que tenho datado de Julho de 2007, a linhas tantas dou expressão a um pensamento divagante que me ocorreu (ou a uma reflexão, se se quiser):


Um livro é um corpo… Um corpo inteiro… – com tudo nele existente.
Um livro pode ser um ombro, um peito, um colo… Os livros são doces, macios… Podem aquecer-nos se os encostarmos a nós com um abraço, apertando-os contra o coração… 

O livro pode marcar-nos a alma se o deixarmos, com as suas garras invisíveis, penetrar nas dimensões mais subtis do nosso ser…
O livro pode marcar-nos até o corpo se, despidos, adormecermos sobre ele…
O livro pode refrescar-nos se o aproximarmos um pouco do rosto e, com os dedos, fizermos correr velozmente as suas folhas até que produzam uma brisa que nos inunde a face…



                                                                               
                                                                                        

M. Gama Duarte


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