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terça-feira, 17 de maio de 2016



Falar
de Clotilde



Mauro certa madrugada, após uma ronda pelos telhados do seu bairro e um sono leve, acordou com o pensamento em Clotilde.


M. Gama Duarte /2016
(Instalação)

Título:
Falar
de Clotilde

Apoio
Na resolução fotográfica:
Artur Duarte


























Clotilde tinha o significado, nem mais nem menos, de uma amizade antiga que Mauro partilhava com Carolino.
Carolino era um laçarote mecânico voador, e um amigo de Mauro já de longa data.
Carolino era uma criatura bem apessoada… simpática e bem falante.
Estes dois bons amigos – Mauro e Carlino – quase todos os dias se encontravam e conversavam. E esses encontros aconteciam tanto em quintais bem cuidados e soalheiros, como em traseiras ao abandono e sombrias de casas onde já ninguém morava. Lugares estes onde por vezes Clotilde se refugiava, passando temporadas sem ser vista. 


M. Gama Duarte /2016

Título:
Onde se terá
escondido Clotilde



Nesses encontros, Mauro e Carolino recordavam fabulosas tertúlias. E, por sua vez, cada um relatava entusiasticamente as suas novas e epopeicas aventuras.


E então nessa madrugada, quando o Sol já se preparava para espreitar na linha do horizonte, Mauro, por sorte, encontrou o seu velho amigo Carolino (o laçarote mecânico voador). E tendo Mauro nesse raiar do dia o pensamento em Clotilde, era razão para fazer o seguinte pedido a Carolino, que era um compulsivo falador:



M. Gama Duarte /2016
(Instalação) 
Título:
Mauro e Carolino
conversam
ao Sol raiar

Apoio
na resolução fotográfica:
Artur Duarte 

Vá, amigo… – fala lá hoje da nossa amiga Clotilde.





















Há muito que eu conheço o gato Mauro e o laçarote mecânico voador Carolino.
Eles também eram visitas habituais no quintal que pertencia à casa antiga onde em tempos, em Lisboa, eu morava.
Quando estes dois amigos por lá paravam, nesse quintal da velha casa onde eu morava, e dava conta da sua presença, sentava-me à mesa de trabalho da divisão da casa que me servia de estúdio, e observava-os… Observava-os e ouvia-os…
E muito eu ouvi dessas conversas ente Mauro e Carolino. Mas ignorando eu (e ainda ignoro) se eles tinham percepção de que não estavam sós.
Mas, Independentemente disso, ao longo de todos os anos em que vivi naquela casa, nunca deixei de ter o prazer de receber no meu quintal a visita daqueles dois invulgares amigos: Mauro e Carolino.
Ouvi-os falar de Clotilde… várias vezes os ouvi falarem da sua amiga Clotilde.
Uma das vezes foi nesse fim de madrugada em que Mauro pediu a Carolino:
 – Vá, amigo… – fala lá hoje da nossa amiga Clotilde. Era só mais uma vez entre outras
E Carolino falou de Clotilde, fazendo a vontade a Mauro.


E hoje eu também poderia falar de Clotilde.
Mas o texto que aqui publico hoje foi escrito no dia 20 de Novembro do ano de 2007. E Intitula-se:

O Paradigma de Clotilde… E é datado de uma altura em que ainda não era comum falar-se em paradigmas… ou seja: antes do caso paradigmático, muito badalado anos depois, em que um gorgulho decidiu mudar de vida e o plano que pôs em prática foi abandonar o feijão-frade e ir-se alojar numa bolota.  



M. Gama Duarte /2016
(Instalação)
Título:
Mauro e Carolino
conversam
ao Sol raiar

Apoio
Na resolução fotográfica:
Artur Duarte  




o Paradigma de Clotilde



















... E obviamente que um dia teria que falar de Clotilde: a barata amiga de Mauro e Carolino.
E é certo que as baratas não são todas iguais…
E esta – a barata amiga de Mauro e Carolino (Clotilde) – é um dos casos sobre o qual é justo dizer-se que não é uma barata como as outras (ela é uma barata diferente… – não se inclui no comum das baratas).
Ela é um arquétipo: a primeira barata de uma nova geração de baratas… Um dia, no futuro, todas as baratas serão como ela.
E que se cuidem as formigas, as cigarras, as joaninhas… etc. … Pois a todas Clotilde supera em esperteza, arte e elegância.
Clotilde dança, toca piano e fala frantuguês (a língua franco-latina).
Clotilde é, indiscutivelmente, um prodígio…

Barata: uma palavra (uma palavra-nome…) – palavra significante que, ao ser pronunciada, logo nos conduz a uma precisa imagem: aquele ser pequenino que todos conhecemos.
Porém, a palavra barata não apenas (ou não fatalmente) nos condiciona a mente num sentido em que se nos afigure de imediato, e só, a barata dos compêndios de zoologia com belas encadernações rígidas, e dos coloridos e lustrosos cromos da História Natural de que fui coleccionador com direito a caderneta.

Convivemos no nosso cotidiano com uma determinada dimensão de significantes e significados em que a língua, falada e escrita, não pode renunciar ao seu compromisso histórico.
E nesta vertente, a palavra barata associa-se a referências de excelência. Como exemplo: a antiquíssima “Livraria Barata” em Lisboa, fundada em 1732; Rua Barata Salgueiro, onde se encontram a Sociedade Nacional de Belas Artes e a Cinemateca Nacional, também em Lisboa.
E se certo é que “baratas são carochas”, porque não relembrar a doce e ancestral relação (fabulosa relação) entre a carochinha e o João Ratão.


 
M. Gama Duarte /2016

Título:
Afinal
onde se terá
escondido Clotilde




















M. Gama Duarte

20 de Novembro de 2007






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