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domingo, 22 de maio de 2016




Reflexões de Cirilo...



e a sua descoberta do gato que queria ser
instrutor de voo




Em certas horas vividas pelo pacato e solitário Cirilo – horas de algum azedume –, ele questionava-se: “O que serei eu num próximo, ou num distante, amanhã ? ... E o que hoje mesmo, afinal, eu sou?. Eram as suas inquietações metafísicas… (ou não tão metafísicas assim).




M. Gama Duarte / 2016

Tema:
A memória,
o presente e o intemporal
                  



* * *


Uma vez mais Cirilo ali se encontrava sentado à mesa numa das esplanadas de café, que habitualmente frequentava na cidade onde havia nascido... E constatava (não seria, por ventura, a primeira vez que o assolava tal pensamento):
Ganhei um certo sentimento de afecto pelos objectos, e sítios onde me posso sentar… seja à mesa de uma esplanada, como é o caso (agora), seja à beira de um lago num qualquer jardim desta cidade”.

E estes pensamentos surgiam-lhe, não porque de imediato Cirilo associasse o mero repouso, ou o mero lazer, ao acto de se sentar… (não era essa a razão daquele seu sentimento de afecto pelos objectos, ou sítios, onde se podia sentar).

Cirilo associava esses objectos, ou sítios – tão comuns no seu cotidiano e onde se podia sentar (quaisquer que eles fossem) – a algo muito diferente. E ele tinha a explicação pronta (que lha pedissem – a explicação –, que ele logo a apresentaria): “É a atitude de esses objectos, ou sítios, me aceitaremou  o carinho de receberem o meu corpo”.

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M. Gama Duarte / 2016

Tema:
A memória,
o presente e o intemporal
                  

























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Era verdade que algo nessas coisas e nesses sítios lhe fazia lembrar os braços e o ventre da sua mãe... – os braços e o ventre da sua mão ganhando aquele jeito que por fim era o colo que aconchegaria Cirilo.
Aí, nesse colo, ou regaço, Cirilo verdadeiramente descansava e dormia o seu sono mais perfeito.

Os “colos, ou regaços” que hoje “aninham” Cirilo, não têm esse calor… O calor que neles sente é o calor que o seu próprio corpo produz (é o próprio corpo de Cirilo que aquece esses “colos, ou regaços”)… – por isso é um calor solitário.

Esses regaços: bancos e cadeiras de esplanadas de cafés, de Cervejarias ou de jardins, todavia são para Cirilo regaços onde não é fácil a sobrevivência. E Cirilo questionava:

O que serei eu um dia???... – lá longe (não sei daqui por quanto tempo ou por quantos anos, ou por quantos segundos)”. E mesmo sobre o presente Cirilo questionava:
O que restará de mim hoje?... (Sim!... – pergunto)
Estou sentado neste banco alto fixo ao chão, e o balcão dista do meu peito cerca de palmo e meio… e pergunto: o que resta de mim hoje de mim e ocupa, neste momento, este assento onde me sinto confortável?”

Cirilo, quando escrevia, recorria a miúde a uma linguagem metafórica. E por vezes confiava o que escrevia à leitura de um amigo. E num desses textos ,propósito deste tema, esse amigo leu:
Sobre o acento deste banco, talvez nada mais de importante se encontre que o indispensável de mim: aqueles pedaços da mente que me permitem o elaborar as ideias e autorizam a transmissão dessas mesmas ideias à mão que as descarrega na superfície branca desta folha de papel. E, para efeitos da escrita, a responsabilidade recai essencialmente no dedo polegar, no dedo indicador e no dedo médioPois são estes três dedos que asseguram o empunhar com firmeza o instrumento com que escrevo”.



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Daí por minutos já não encontraremos Cirilo sentado àquela mesa de café. O que resta de si abandonará aquela cadeira. Cirilo regressa ao mundo concreto logo que os seus pés reiniciem a caminhada (uma caminhada que será tão lenta quanto afoita… – afinal o que significa para Cirilo o tempo?...).



M. Gama Duarte / 2016

Tema:
A memória,
o presente e o intemporal
                  

























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Cirilo olha-se. Soma-se palmo a palmo – faz a contabilidade ao que resta de si (ao que é)... Afinal ainda se encontra razoavelmente inteiro.
– “E do dia de hoje?... O que restará dele?” – Pergunta Cirilo à fivela do seu cinto ao mesmo tempo que confere se o cós das calças está situado conveniente. Cirilo quer uma resposta!.. (será ainda dia?... Será já noite?).





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M. Gama Duarte / 2016
Cirilo olha o céu...
















... E, a enfeitar o azul, um círculo com um semblante de tal maneira diferente que não o informa sobre o que vê: se Lua se Sol.


M. Gama Duarte / 2016

























Assunto do Desenho:

O gato que desejava ser instrutor de voo, tal como o seu amigo (o gato Zorbas) que é um dos personagens da “Historia de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar” da autoria do escritor Luís Sepúlveda.    



Esse círculo roça um dos telhados: insinua-se num horizonte de telhas, de antenas combalidas, de chaminés num arfar mortiço... E um gato preto que farejava por perto resolve trepar a um décimo andar. O gato aproxima-se do círculo (que nem Lua nem Sol).
Entretanto o gato pára e espreguiça-se… e lambe, quase que libidinosamente, uma das patas… E prossegue. Entra por fim no círculo, ocupando o seu centro. E desta vez pára para se deitar.

– “O que lhe irá na cabeça daquele gato? – interroga-se Cirilo. E Cirilo vai-se esforçando na tentativa de, mentalmente, alcançar os intentos do gato… E mesmo que mais longe Cirilo não chegue, ou seja: à verdade, pelo menos Cirilo imagina. E nisto chega a uma conclusão:
– “Mais um felino com a ambição de vir a ser um afamado instrutor de voo”.






M. Gama Duarte

21 de Maio de 2016
       
         
                  
         

       

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