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domingo, 25 de janeiro de 2015

Desenho
Título: casa mágica
Material: lápis de cor e tinta da china
Suporte: papel





Desenho sem título
Material: tinha da china
Suporte: papel



As estrelas não me repreendem…



Nem um movimento. Nem um ruído... Quase nem uma sombra.
Quase tudo Céu… O Sol… – (e) só.
Agora a terra bebe toda a humidade que escorre das folhagens…

… E a noite foi aquela presença nos quartos… – o que se percebe pelo sentir na pele a sua leve nomenclatura de cetim.
As janelas abertas e a Lua a vir deitar-se connosco (ficou aos nossos pés como um felino manso).
Adormecer é como desperdiçar a sensação de eternidade do momento.
Todas as estrelas já no seu lugar no firmamento (não se empurram umas às outras…).
….

Antes, subi à açoteia (uma espécie de terraço suspenso… e até podia chamar-lhe um pedaço de nuvem em forma de rectângulo liso e cor de terracota). Sentia ainda um calor intenso debaixo dos meus pés... E sentia desejo de experimentar esse calor em todos os poros da minha pele… Deitei-me abandonando o corpo por inteiro, e desenhando com ele uma cruz.         

Reconheci aquele lugar… Recordava-me: a sensação era mesma… sempre a mesma sensação naquele lugar… (ajuda nessa percepção as leis dos equinócios preservada ainda na natureza e em teoria nos compêndios de ciência…).
Agosto (Verão de 2011).
Porém castigam-me de dia as temperaturas abrasantes: o ar escaldante toca-me e arranha-me como garras de lume, e esfola-me o peito por dentro.
Creio-me ali (e assim) mais perto do Céu… É como se entra-se por ele a dentro, ou como se ele me engolisse… e ao crer nisso sorrio em clima de intimidade comigo próprio, que é a única forma tranquila de o fazer – (sorrir)… – pois por sorrir em tais circunstâncias não me vão repreender as estrelas, nem a Lua me vai franzir o sobrolho em sinal de reprovação… Nem me vão abafar o sorriso as vozes das criaturas humildes que habitam o silencioso mistério da noite…  
  


… O Sol despontara à uma dúzia de quartos de hora… E recordo-me como se fosse hoje (– eu então a pensar):
– “Manhã …
E aqui gostosamente rendido desde as unhas dos pés mal aparadas (estou de férias…) até à ponta dos cabelos que ainda conservo… passando esse elam pelo coração, pelas mãos… – (uma das mãos segurando o cigarro; a outra agarrando a asa da chávena, que agora apenas contem uma porção residual de café, mas que, bebido, oferece ainda o intenso e familiar sabor – aquela fragrância que de forma doce me espicaça o cérebro).
E o corpo aos ângulos – adaptado à cadeira que por acaso é em plástico, assim como a mesa… E uma e outra peça (mesa e cadeira) exibindo o reclamo à Sical.

Há uma linha imaginária, nem verde nem azul, que me guia o olhar ao longe…
… uma linha, nem verde nem azul, que se atreve  numa fuga delirante para mais longe ainda… leva-me consigo, e já não sei onde estou: se aqui sentado de cigarro entre os dedos de uma das mãos (a direita… ainda tenho a noção), e a asa da chávena entre o indicador e o polegar da outra mão (esta última logicamente a mão esquerda).
E de novo a dúvida: já não sei onde estou sentado… não sei se nesta cadeira à mesa, ou se estou sentado numa daquelas nuvens brancas, sem que os meus pés toquem a linha imaginária, nem verde nem azul…
(– agora já não uma linha mas sim uma auréola – reparando melhor).
Mas estou certamente entre uma coisa e outra (a nuvem e a cadeira em que me sento a esta mesa) …
Vou subindo e descendo montado nas vértebras da minha fantasia acompanhando a imaginária linha (há novamente linha e sinto-me como um equilibrista de circo).”

...
… Tinha-me levantado há pouco.
O sono finalmente posto em dia; os galos com a sua sessão de canto coral cumprida, ou tendo-a interrompido (desistido por cansaço) devido a exageros típicos de galo; o Sol já a virar maduro mas fixo no azul de “prata”… – (o ouro sobre azul das manhãs virgens, tranquilas e sem véu…) –, e o silêncio de um vazio cheio – cheio de mim… cheio dos aromas a verde e a azul que entram pelas janelas abertas… cheio do brilho da linha imaginária que afinal é de todas as cores. Enfim, um vazio cheio de mim, e dos outros que nos quartos, de porta ainda fechada, descansam; um vazio cheio dos restantes da casa que saíram cedo chamados a tarefas e compromissos que não os dispensam.

Acordara bem desposto… Sentia-me à vontade.
Com um braço aproximei mais de mim a minha mulher, e assim ficámos mais um pouco.
Os rapazes ainda dormiam (ainda não os tínhamos ouvido no corredor). Levantámo-nos  (talvez já um pouco tarde…) para um passeio ainda antes do almoço, e seria já debaixo da madureza tórrida e macia do Sol do Sul…
E lá iríamos campo e estrada fora. Eu de boné mal equilibrado ao centro da cabeça, nos meus excessivos cuidados com os ultra violetas… e com os meus óculos de sol de lentes cor de tintura, pendurados no nariz e nas orelhas – óculos que uso, por regra, apenas para me esconder do mundo  (mas de um outro mundo, não deste aqui – porque deste mundo aqui não me escondo nem me queixo porque é um mundo suficientemente sincero e natural… – é aquela  simplicidade na base da qual seriamente a linha imaginária de todas as cores brinda com os meus sentidos).


Gosto de me sentir bem… gosto de me sentir à vontade.
Entre as nuvens e eu ainda a mesa. Sobre ela, e à minha frente, o bloco de notas onde escrevo.
Num ângulo de visão por esventrar ainda, jovens pinheiros mansos de um verde sólido… copas redondas como berloques gigantes, cobrem cabeços ressequidos. Talvez duas, talvez três, talvez quatro centenas de pinheiros mansos… íntimos como siameses (profunda inspiração do destino ...) – talvez as suas vidas e destinos estejam ligados a uma mesma raiz comum.
(Enternece-me o convívio das árvores… O convívio das árvores é como um soro de vertigem pura e sacralizada…
… Convívios?...  rambóias?...  relações de vizinhança?...  cavaqueiras?… – Com as árvores sim!...Vale a pena.
Loucura?... Talvez…
Talvez, passado um certo tempo, a loucura seja o que se espera no indivíduo lúcido que justifica as suas teimosias e irredutibilidades defendendo a ideia: “Deve-se ver as coisas como elas são!...”)… E porque não (?).
… E por todo o lado era o silêncio. Para mim era o silêncio… ficavam no fundo das gavetas todas as cartas de recomendação, certificados de competência e credenciais que respeitavam outros valores que não fossem os valores da simplicidade e do silêncio. E que outras coisas serão melhor que a simplicidade e o silêncio?...

Um pássaro ao alcance da minha enfraquecida visão voava linearmente a velocidade constante, transcendendo tudo o que não soubesse e que a mim não fazia falta saber  (nem a ele fazia falta saber). E enquanto isto, uma abelha de tamanho invulgar, que quase me assustou, poisou (abordou-me). Eu não sabia de onde vinha tal criatura, nem onde poisara antes. Aquietou-se perto da minha chávena. Não se aproximou decerto atida à cafeína e com apetite a ela… (as abelhas não tem noção alguma dos prejuízos e dos benefícios da cafeína). Deslocou-se ligeiramente e pôs-se a chupar no vidrado à volta do estampado do pires, qualquer coisa que me eu não enxergava (não distingui a olho nu o que era). A seguir a criatura ficou imóvel, como que, tendo-se consolado, pretendesse fazer uma digestão em tranquilidade. Ou então, quem sabe, talvez lhe interessasse experimentar uma conversa comigo.





M. Gama Duarte

                                                                                                                                        
    

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