123456789

123456789

MENSAGEM AOS VISITANTES DO BLOG

Saúdo todos os que acedem a este meu Blog, venham ou não, de futuro, a tornarem-se visitantes habituais do mesmo.

Apraz-me contar com todos neste espaço de partilha.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015















Foto (autoria): M. Gama Duarte
Lugar: Reguengos de Monsaraz
“Carta”


…   
“Ao fundo do corredor nocturno que se estreitava, de um lado uma janela através da qual se solenizavam os seus perfis… do outro, uma janela através da qual se observava a Lua – uma Lua deslumbrada… e que pendia nua, fresca, madura, tímida e eterna…”.
Com estas palavras iniciaria uma carta (talvez uma carta). Depois não sei… não sei a quem imaginaria enviá-la a alguém… Pois tudo era imaginação.
Mas só se ali me retivesse esperando a serenidade da noite… – (pois a noite trás consigo segredos novos e múltiplos mistérios, os quais se revelam no caminho a que ela (a noite) nos obriga a percorrer entre a novidade, o que julgamos saber, e as expectativas das quais não desistimos…
E se aqui me retivesse, pois, com o tempo, revelar-se-iam (ou não) segredos novos e múltiplos mistérios. Mas entre esses (segredos e múltiplos mistérios) apenas alguns dos já confidenciados pelos poetas aos ouvidos do "oculto".  
E se assim fosse (se aqui me retivesse), continuaria a minha redacção:
“Confiante, avancei na noite em direcção à janela iluminada, ou em direcção a uma terceira janela, que talvez existisse. Talvez me tivesse aproximado da tal terceira janela, que afinal existia, e esperei que dessem pela minha presença.
(Eu olhava-os…)
Por fim olharam-me também, e esperei que me convidassem… E convidaram-me:
Anda... chega-te aqui a nós… Tiveste sorte: apareceste ainda a tempo de nos acompanhares na sétima rodada deste “licor de artemísia”.
Timidamente fui-me aproximando.
Brindámos... e foi-me permitido que, tranquilamente, prolongasse o prazer de sentir no céu da minha boca a mistura do hálito ao licor de “artemísia” com o odor às emoções que ainda se libertavam dos mais intensos versos escritos por aqueles poetas".  


M. Gama Duarte

1998






O Iceberg

(… e a luz que trás o silêncio)



– … Sim!... é um café, por favor – (confirmou).
– Normal ou curto, caro senhor? – Indagou o funcionário (este desconhecia o nome do cliente, e por isso – e também por um dever de respeito – tratou-o por caro senhor)…
… E se para o cliente for importante, o café que lhe servirem será um café personalizado (ao seu gosto e à sua vontade).
E de quatro hipóteses possíveis o cliente escolherá uma: ou chávena cheia, ou meia chávena, ou chávena a três quartos… ou mesmo só o princípio… Ou antes pelo contrário: sem o princípio
 E já está: O café… – o eflúvio sacramental na festiva inauguração de mais um dia igual, ou de um dia diferente dos outros dias. E não sendo o cliente o mais importante de tudo, talvez o café o seja...  - seja  o mais importante

O cliente vai desfrutando do aroma, do paladar, e de um certo silêncio trazido pela luz… – um espectáculo protagonizado por essa luz a oferecer-se num Outono que, com um admirável jeito, se disfarça de Primavera…

De resto: os pensamentos… as sensações… Ou brisas que provocam o primeiro movimento do iceberg performativo que assume o papel de jangada de fuga que leva o pensador sentimental em cruzada flutuante para um horizonte próximo... E cativo de uma sisma de confiança em planos protectores muito pouco ortodoxos, mas algo transcendentes.  Conforma-se o navegador/personagem... E confinado também ele se encontra à lógica de uma legítima estratégia de sobrevivência.

E no avanço e recuo das horas, o cliente (e personagem) mede o tempo pelo bocejo das gaivotas…
… E olha ao alto... – Um olhar que arrasta as nuvens e adivinha as marés…
O cenário é então azul (um tão azul)… o azul total – (o palco celeste).  

Enquanto bebe o café ele “pergunta as horas” a ninguém (nem a si próprio)... – pergunta essa que fica a sobrevoar a redoma do seu silêncio… e espera, sem presas, a resposta das gaivotas.


  
M. Gama Duarte

29-10-2010     

   


      

Sem comentários:

Enviar um comentário