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terça-feira, 24 de fevereiro de 2015





Maria do Rosário Duarte (Tia "Amália"), numa das janelas da sua casa que davam para o quintal, em Lisboa nos anos 80.










Obs. Amália é alcunha que lhe foi posta quando ainda criança (começou por a alcunha ser “Amalica” – um diminutivo –, porque a sua madrinha de baptismo se chamava Amália. Alcunha que se perpetuou na forma de nome próprio (não oficial) de  Amália







Rosário


Rosário viveu até aos 95 de idade.
Mas… teria sido possível viver até mais tarde?...

… Recordo-me: quando ainda relativamente nova, ela nunca imaginou vir a contar com semelhante longevidade… E o mais impressionante na idade a que chegou,  era o facto de  gozar de um relativo bem estar (uma invejável saúde, tendo em consideração a avançada idade) – condição  de que  se orgulhava… E em tal evidência encontrou razões para “dar graças” (expressão sua, que repetidas vezes lhe ouvi).
Porém, dois súbitos declínios na sua saúde exigiram que, com uma índole inadiável, lhe fosse prestada assistência médica imediata… a que se seguiu o internamento recomendado.  
Entre uma e outra crise decorreram sensivelmente sete meses. E a recaída foi-lhe fatal.
Nunca Maria do Rosário havia antes permanecido entre paredes de uma unidade hospitalar por similares motivos.
. . .  . . .

– Então mãe?... Como vai?
– Andando filhos… vou andando.
– E o passeio mãe?... Que tal foi o passeio?...
Havia sido a primeira vez que Rosário entrara na sala de urgências de um hospital.
Vacilou. Seguidamente embrenhou-se num suspiro silencioso…
E as suas mãos sobrepostas, como que aninhando-se uma na outra, repousavam sobre a ligeira curvatura do topo da bengala de madeira dura que mantinha bem chegada ao peito, e hirta…
… E parecia que, fantasmagoricamente, se tinha instalado sobre o seu corpo o peso de uma ruim memória (a memória daquele passeio a meio do qual adoecera). E o efeito do peso da ruim memória reflectia-se nos seus ombros, provocando-lhe uma saliente quebra. E nesse estado de alma que se reflectia na condição física, o rosto de Rosário aproximava-se ainda mais das suas mãos que se enconchavam coladas uma à outra.
...

(Extracto da Crónica: “Mãe Grande” de 07 de Maio de 2011)


. . .  . . .
Se nas contas não me confundo, faz por estes dias sete meses que tiveste aquela macacoa que para ti foi um martírio, Mãe Grande.
Passaste um mau bocado, bem sei. E para nós foi um sobressalto.
Já não passavas uma noite num hospital desde que na Maternidade Alfredo da Costa te abriram o ventre para que eu saísse e visse luz. Foi um nascimento segundo o método de cesariana – recurso que se impôs excluída que foi, por parte da equipa de obstetras, a hipótese de um parto normal.
A tarefa foi laureada de sucesso, e o êxito registado: uma mulher de 40 anos chega ao fim do tempo de uma gravidez de risco com um suspiro de alívio, e comprazimento, perante o final feliz.
Porém os penosos vinte dias em espera e em vigilância no Serviço de Obstetrícia na Maternidade Alfredo da Costa nunca foram vertidos no abismo do esquecimento. Por isso Rosário, sempre que relembra esses vinte dias, repete:
“… Tudo o que foi menos bom passou… mas  é verdade que foi difícil… Mas todo o pior suportei  por  amor…  Mas difícil  foi, porque tu eras muito grande, meu filho”.
...

(Extracto da Crónica: “Mães Grandes” de 12 de Dezembro de 2011)


Foto e texto:
M. Gama Duarte         


      

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