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segunda-feira, 16 de fevereiro de 2015








       
M. Gama Duarte

Motivo: Lisboa (Terreiro do Paço) 


As curtas linhas
que hoje julguei serem possíveis




Por um modesto capricho; por uma natural necessidade de experienciar os contrários; por uma lógica de vida que passa pela aceitação de um convite em que nele esteja implícita a rejeição do prazer total, e a sugestão de um prazer partilhado (sentir em cada coisa apenas uma parte do prazer), há aqueles momentos em que acredito que a minha vontade é apenas a de escrever umas curtas linhas… Linhas tão curtas como beijos fugazes que tocam os rostos como circulares gotículas de água nas alturas em que se anunciam os breves chuviscos…


Bebo neste momento um café curto, e tenho ao lado da chávena um copo com água que me serviram meio cheio, mas que talvez não chegue a beber.
Aos poucos vou sorvendo aos minúsculos goles esta líquida, aromática, escura e escaldante substância.
É a cafeína que, neste ritual absorvo, vai ajudar a manter-me acordado o resto do dia.
(Parece-me que assim: bebendo o meu café aos minúsculos goles, o sinto mais saboroso… mais encorpado, e a espalhar-se mais delicada e eficazmente por todo o tecido capilar interno da minha boca).
Vou intercalando com os minúsculos goles – que cada vez são mais minúsculos, mais pastosos e tudo o mais que as minhas sensações neles encontram – as palavras que vão ganhando corpo na minha mente, e que, não sei porque carga de razão (ou com que sentido), essas palavras descem por mim fazendo o caminho mais curto até chegarem à ponta aguçada do objecto que os habituais três dedos da minha mão direita apertam. E lá vou escrevendo.
(Talvez isto seja uma carta… – outra carta – se eu de tal me quiser convencer).

M. Gama Duarte
Motivo: Lisboa (Casas de Alcântara
)

Mas entretanto vai-se fazendo tarde… e já não são para hoje as curtas linhas que julguei serem possíveis…
E, neste fragmento de tempo que resta, lentamente levanto a cabeça… Observo o céu (um céu geométrico e espartilhado: assente em artificiais horizontes delimitados por aço e betão… ou apenas delimitados por pedra, argamassa e telha… É assim nas pequenas e grandes cidades, e vilas).


Uma forasteira aragem irrompe praceta dentro. Parece assediar-me. Contorna-me discretamente o corpo. Ao de leve toca-me na camisa e esgueira-se logo, estouvada e invisível, sem marcar terreno e sem deixar rasto...

… Atento, olho o pulso procurando as horas … E já não há tempo para as curtas linhas

Motivo: Lisboa (Em casa dos pais nos anos 80)
que hoje julguei serem possíveis…
Resta apenas tempo para as últimas partículas de cafeína já frias, que provavelmente ainda encontrarei, se com elas contar e as procurar na concavidade afunilada da chávena de loiça que repousa dois palmos abaixo do meu queixo.







M. Gama Duarte   

                      




Autor: M. Gama Duarte (anos 80)


















Título: A queda de Ícaro sem as asas
Materiais: Acrílico sobre papel de cenário






















Autor: M. Gama Duarte (anos 80)











Título: Mito
Materiais: Acrílico sobre papel de cenário 



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