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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015


M. Gama Duarte 81
Sem título
Desenho, pintura  e colagem (técnica mista)




Na sombra de luz
de um certo luar de Vézac




Tinham chegado já tarde. A lua já alto (bem alto…)
… E o céu ali (parecendo-lhes tão perto): tão próximo como longínquo: sério e pleno – tão pleno quanto o melhor de si: imanente… e como fundo ideal para o mais belo da luz; para o mais belo dos brilhos… – aquela luz e aquele brilho que, assim como eram, só mesmo as estrelas…

Para trás, a uma distância imensurável em tempo e espaço concretos, uma experiência que deixara um inabitual rasto de silêncio, de aceitação e de compaixão (para a compreensão de certas verdades, usarmos exclusivamente as faculdades próprias da inteligência, ás vezes é pouco (um reduzido recurso)… e só a sabedoria nos faz chegar à razão e nos permite reconhecer as iluminadas respostas.

Tinham chegado já tarde. A lua já alto (já bem alto…).
… E o céu ali (parecendo tão perto): tão próximo como longínquo…

Eles prescindiam de um discurso elaborado a custo de palavras… – substituíam-nas pela percepção de um remanescente calor que lhes ficara – um especial calor experimentado na palma das suas mãos… – Um calor que benignamente ainda permanecia como que grudado à aura de um e do outro, e que lhes tocava o peito…
Recordavam o tal momento, revivendo-o então em memória: momento-memória: recém-nascido… A prece e, enfim, a celebração… e o louvor à Vida… à VIDA!... (os anjos haviam regressado pelas mesmas escadas de ouro por onde haviam descido dos céus… e haviam regressado sozinhos, porque, para aquela que haviam visitado, ainda não era chegada a hora… (o supremo divino a poupara)… Milagre?... “Ressurreição”?... – o que em verdade havia sido era um segredo à guarda do destino.

… Na sombra de luz eles falaram da fé…
Fé que é alimento e sustento da esperança.
Fé que se revela em expressão colectiva – a fé que move montanhas, a fé que alimenta peregrinações. Falaram da fé individual que se vive em solidão, e em silêncio – a fé que se identifica como um sinal de que, em compromisso com algo de valor superior em que se acredita, se vai trilhando o caminho.
… Mas a fé vivida em comunhão (em partilha), inspira-nos pensamentos que nos vão revelando, e convencendo, de que na luz é a forma de estar que permite a todo o ser humano encontrar a melhor maneira de se pacificar com o próximo e com o mundo.

Por fim, serena e Intuitivamente, eles fecharam os olhos… (já sabiam que fechar os olhos é ficar vigilante). Centraram-se em si próprios – num eu/essência e num nós/essência… num eu (e nós) com um certo sentido de totalidade)... um eu (e nós) alcançados por recompensa no culminar de uma fuga em processo audacioso de libertação dos contornos que limitadamente identificam o ser humano no plano corpóreo mais densificado…
… Nesse processo audacioso de libertação entregamo-nos na conquista de um eu, ou de um nós, impessoal… sem limites... Apaga-se neste sentido a percepção visual e palpável dos nossos contornos físicos… e é o encontro (ou reencontro), por fim, com uma auto-proposta de individualidade alternativa que pressupõe a auto-projecção num plano que se traduz, num certo sentido, em “trans-dimensão”

E é a renúncia, a ruptura, a repulsa e a negação das reacções e relações egóicas de sobrevivência – efeito oposto ao efeito de espelho (banidas que sejam as comuns fraquezas narcísicas).

É certo (ou imaginação) que às vezes temos a sensação de que não nos queremos ver, outras de que não queremos encontrar-nos em lugar algum, e ainda outras de que não nos reivindicamos em nenhum espaço ou cultura temporais.
Mas podemo-nos observar… E essa atitude de auto-observação podemos assumi-la como um exercício valioso e consequente…   

Qual o lugar das nossas necessidades comuns neste plano físico que classificamos de tão real?... 
(Em vez de uma resposta pode surgir o espanto perante a descoberta de mais uma ilusão… E é neste dilema, quase enigma, que encaramos tudo como que mergulhados na única “realidade”… (o sermos de facto alguma coisa, mas finita segundo o entendimento mais ao nosso alcance, num âmbito e num domínio a que nos habituámos).
Às vezes o Isolamento…. outras vezes o retiro!…. – (não solidão)  – e questionamos: onde estamos?... quem somos?... o que valemos?...
Cultiva-mos, por vezes, o isolamento (somos nós o retiro de nós próprios – é o que acabamos por aceitar).
Cultivamos a distância… – a distância versos absoluto – A “nossa obra-prima”: coisa/consequência que depois orgulhosamente acarinhamos como coisa só nossa…  (“… coisa nossa que tanto trabalho nos dá”).
… E quanto sofrimento por nós suportado no processo?! ... Tanto sofrimento que, calhando, não é assim tanto. Mas se for (sofrimento), não será só nosso (é do mundo… e também será do divino que nos criou…
Quem sabe?!...)

                                                                                      


M. J. Gama Duarte

  

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